POETA
CASTRADO, NÃO!
Serei
tudo o que disserem
por
inveja ou negação:
cabeçudo
dromedário
fogueira
de exibição
teorema
corolário
poema
de mão em mão
lãzudo
publicitário
malabarista
cabrão.
Serei
tudo o que disserem:
Poeta
castrado não!
Os
que entendem como eu
as
linhas com que me escrevo
reconhecem
o que é meu
em
tudo quanto lhes devo:
ternura
como já disse
sempre
que faço um poema;
saudade
que se partisse
me
alagaria de pena;
e
também uma alegria
uma
coragem serena
em
renegada poesia
quando
ela nos envenena.
Os
que entendem como eu
a
força que tem um verso
reconhecem
o que é seu
quando
lhes mostro o reverso:
De
fome já não se fala
-
é tão vulgar que nos cansa -
mas
que dizer de uma bala
num
esqueleto de criança?
Do
frio não reza a história
-
a morte é branda e letal -
mas
que dizer da memória
de
uma bomba de napalm?
E
o resto que pode ser
o
poema dia a dia?
-
um bisturi a crescer
nas
coxas de uma judia;
um
filho que vai nascer
parido
por asfixia?!
-
Ah não me venham dizer
que
é fonética a poesia !
Serei
tudo o que disserem
por
temor ou negação:
Demagogo
mau profeta
falso
médico ladrão
prostituta
proxeneta
espoleta
televisão.
Serei
tudo o que disserem:
Poeta
castrado, não!
JOSÉ
CARLOS ARY DOS SANTOS,
in
Resumo.
Lisboa,
1973.
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