Os Estados Unidos e Cuba preparam-se para encetar
conversações para normalizar as relações entre os dois países, de costas
voltadas há 52 anos.
Os presidentes dos Estados Unidos e Cuba, Barack Obama e
Raúl Castro, anunciaram esta quarta-feira o início da normalização das relações
entre os dois países, cortadas há mais de meio século. Será aberta uma
embaixada dos Estados Unidos em Havana, Cuba, pela primeira vez em mais de 50
anos.
Dois cubanos assistem à declaração de Raúl Castro, em Havana. |
O Presidente Obama admitiu que a política de isolamento
não resultou com Cuba. Neste dia, "a América liberta-se das algemas da
história". “Acredito que podemos fazer mais pelo povo cubano”, disse o
Presidente norte-americano numa declaração pública. "Aos cubanos, os
Estados Unidos oferecem uma mão amiga", acrescentou.
Obama disse que vai falar com os membros do congresso
para anular o embargo comercial, financeiro e económico imposto pelos Estados
Unidos a Cuba depois da revolução de 1959 que levou o comunista Fidel Castro ao
poder.
Os dois presidentes contaram que falaram pelo telefone na
terça-feira para discutir os últimos pontos da libertação de Alan Gross, um
americano preso em Cuba há cinco anos, que desencadeou a retoma de conversações
entre os dois países. Ambos, discursando simultaneamente durante a tarde desta
quarta-feira, agradeceram ao Papa Francisco e ao Vaticano, respectivamente, o
seu envolvimento na mediação da troca de prisioneiros que ajudou a desbloquear
as relações EUA-Cuba.
"Devemos aprender a arte de conviver de forma
civilizada com as nossas diferenças", disse o Presidente cubano no fim da
sua intervenção. Ao povo cubano, Castro prometeu que as negociações aconteceram
"sem abrir mão de um único" dos princípios da Revolução Cubana e
depois de "grandes perigos, sanções, adversidades e sacrifícios".
O que muda?
As principais mudanças nas relações diplomáticas entre
Cuba e os Estados Unidos passam, entre outras medidas, por:
abertura de uma embaixada em Havana
possibilidade de viagem sem restrições entre os países
eliminação de Cuba da lista dos Estados que patrocinam o
terrorismo
troca comercial de materiais de construção
possibilidade de as empresas americanas oferecerem os seus serviços a
cubanos
permitir serviços de telecomunicação e internet em Cuba
Havana, Cuba. |
"Nunca podemos apagar a história entre nós",
acautelou Obama, frisando que Cuba ainda tem que melhorar alguns aspectos em
termos de reformas económicas e de direitos humanos. Também Raúl Castro
reconheceu as diferenças que ainda existem entre os dois países, separados por
poucos quilómetros de mar, mas diz estar "disposto" a trabalhar no
sentido de melhorar as questões diplomáticas.
Pelo mundo as
várias opiniões começaram a fazer-se ouvir. O secretário-geral das Nações
Unidas, Ban Ki-moon, considera as tréguas diplomáticas "muito
positivas" e considera que está na altura de os dois países normalizarem
as relações.
O Papa Francisco congratula-se com a “histórica decisão
dos governos dos Estados Unidos da América e de Cuba em estabelecer relações
diplomáticas com o objectivo de, no interesse dos respectivos cidadãos, superar
as dificuldades que marcaram a sua história recente”. Francisco escreveu uma carta ao Presidente de
Cuba, Raúl Castro, e outra ao Presidente norte-americano, Barack Obama. O comunicado da Secretaria de Estado da Santa
Sé refere que as cartas convidavam ambos os líderes “a resolver questões
humanitárias de interesse comum, entre as quais, a situação de alguns detidos,
com vista a desencadear uma nova fase nas relações entre as duas partes”.
Em Outubro, a Santa Sé acolheu no Vaticano delegações dos
dois países e “ofereceu os seus bons ofícios para favorecer um diálogo
construtivo sobre temas delicados, de onde brotaram soluções satisfatórias para
ambas as partes”, diz o texto. “A Santa Sé continuará a assegurar o seu apoio
às iniciativas que as duas Nações realizarão para incrementar as relações
bilaterais e favorecer o bem-estar dos respectivos cidadãos”.
O Papa Francisco no Vaticano, no dia dos seus anos. |
O comunicado não o diz, mas este é o resultado de uma
longa e paciente ação da diplomacia vaticana, desencadeada há mais de 15 anos,
quando se preparava a visita de João Paulo II em 1998, reforçada com a visita
de Bento XVI em 2012 e que no dia do aniversário do Papa Francisco atinge um final
feliz.
Agora, e depois de uma troca de prisioneiros entre os
dois países, Obama e Raúl Castro agendaram discursos para quarta-feira passada.
Espera-se o anúncio de mudanças nas relações entre Cuba e os EUA.
O Vaticano esteve envolvido nas negociações para
libertação dos detidos. Já antes, fora com um grande sorriso que o Papa
Francisco recebeu e cumprimentou o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
quando da deslocação do presidente americano ao Vaticano. “É tão bom vê-lo”,
afirmou Obama, sentado à frente de Francisco. O encontro público durou breves
instantes, durante os quais o Papa se limitou a sorrir e a ouvir os
cumprimentos do líder do mundo Ocidental.
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