quinta-feira, abril 27, 2017

PELA TARDE, COM MANUEL ALEGRE: "CANÇÃO PARA O MEU AMOR NÃO SE PERDER NO MERCADO DE CONCORRÊNCIA (Praça da Canção)"





CANÇÃO PARA O MEU AMOR
NÃO SE PERDER NO MERCADO 
DE CONCORRÊNCIA


Não leves o sol nas mãos
quando fores amor à praça
onde até o sol se compra
onde até o sol se vende
e sobretudo não digas
essas palavras que nascem
da brisa que nasce en ti
quando passares pela praça
onde se compram palavras
onde as palavras se vendem.

Nem perguntes pelo nome
que no peito escrito trazes
porque há nomes que se compram
os nomes também se vendem
nessa praça onde tu passas
tão sem preço como o preço
que o vento teria amor
se o vento tivesse preço.

Nem andes assim vestida
de Abril e mágoa não mostres
teu coração no teu rosto
alegre ou triste não tragas
sentimentos nos sentidos
quando passares pela praça
onde os sentidos se trocam
e há sentimentos trocados.

Nunca vistas os teus olhos
das manhãs que vais tecendo
nem soltes os teus cabelos
onde o amor faz suas tranças
com teu rosto de ternura
nunca vás amor à praça
onde até o amor se compra
onde até o amor se vende.

E se eu partir para a guerra
não perguntes quando volto
nem com lágrimas desenhes
minha ausência no teu rosto
e sobretudo não fales
meu amor da paz na praça
onde até se compra a guerra
onde a própria paz se vende.

Esconde as guitarras e Abril
que trazes dentro de ti
prende os cabelos teu vento
fecha a vida nos teus dedos
não vão teus dedos perder-se
que a vida também se compra
a vida também se vende
é simples mercadoria
nessa praça onde tu passas
tão sem preço como o preço
que o vento teria amor
se o vento tivesse preço.


MANUEL ALEGRE,
"Praça da Canção", pág.85


Imagem: Mariaeugenia Calderon

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