CALA-TE, VOZ
Cala-te,
voz que duvida
e
me adormece
a
dizer-me que a vida
nunca
vale o sonho que se esquece.
Cala-te,
voz que assevera
e
insinua
que
a primavera,
a
pintar-se de lua
nos
telhados,
só
é bela
quando
se inventa
de
olhos fechados
nas
noites de chuva e de tormenta.
Cala-te,
sedução
desta
voz que me diz
que
as flores são imaginação
sem
raiz.
Cala-te,
voz maldita
que
me grita
que
o sol, a luz e o vento
são
apenas o meu pensamento
enlouquecido…
(E
sem a minha sombra
o
chão tem lá sentido!)
Mas
canta tu, voz desesperada
que
me excede.
E
ilumina o Nada
com
a minha sede.
JOSÉ
GOMES FERREIRA
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