Desde o século XV, Santa
Cecília é considerada padroeira da música sacra. A sua festa é celebrada no dia 22 de
Novembro, dia da Música e dos Músicos.
Cecília seria da
"nobre família romana dos Metelos, filha de senador romano e cristã desde
a infância". Casou contra a vontade, com um jovem chamado Valeriano. Se
bem que tivesse alegado os motivos que a levavam a não aceitar este contrato, a
vontade dos pais impôs-se de maneira a
tornar-lhe inútil qualquer resistência. Assim marcou-se o dia do casamento e
tudo foi preparado para a grande cerimónia. Da alegria geral que estampava os
rostos de todos, só o de Cecília era exceção. A túnica dourada e o alvejante
peplo que vestia não deixavam adivinhar que por baixo existia o cilício, e no
coração lhe reinava a tristeza.
Estando só com o noivo,
Cecília disse-lhe com toda a amabilidade
e não menos firmeza: “Valeriano, acho-me sob a proteção direta de um Anjo que
me defende e guarda a minha virgindade. Não queiras, portanto, fazer coisa
alguma contra mim, o que provocaria a ira de Deus contra ti”. A estas palavras,
incompreensíveis para um pagão, Cecília fez seguir a declaração de ser cristã e
obrigada por um voto que tinha feito a Deus de guardar a pureza virginal.
Disse-lhe mais: que a
fidelidade ao voto trazia a benção, mas a violação, porém, o castigo de Deus.
Valeriano, ficou "vivamente impressionado" com as declarações da
noiva, respeitou-lhe a virgindade, converteu-se e recebeu o batismo naquela
mesma noite. Valeriano relatou ao irmão Tibúrcio o que se tinha passado e
conseguiu que também ele se tornasse cristão.
Turcius Almachius,
prefeito de Roma, teve conhecimento da conversão dos dois irmãos.
Citou-os perante o tribunal e exigiu que abandonassem, sob pena
de morte, a religião que tinham abraçado. Diante da recusa formal, foram
condenados à morte e decapitados. Também Cecília teve de
comparecer na presença do juiz. Antes de mais nada, foi intimada a revelar onde
se achavam escondidos os tesouros dos dois sentenciados. Cecília respondeu-lhe
que os tinha bem guardados, sem deixar perceber ao tirano que já tinham achado
o destino nas mãos dos pobres. Almachius, mais tarde, conhecedor deste facto,
enfureceu-se e ordenou que Cecília fosse levada ao templo e obrigada a render
homenagens aos deuses. De facto foi conduzida ao lugar determinado, mas com
tanta convicção falou aos soldados da beleza da religião de Cristo que estes se
declararam a seu favor, e prometeram abandonar o culto dos deuses.
Martírio de Santa Cecília |
Almachius, "vendo
novamente frustrado o seu estratagema, deu ordem para que Cecília fosse
trancada na instalação balneária do seu próprio palacete e asfixiada por
vapores de água a ferver. Cecília teria sido então protegida milagrosamente, e
embora a temperatura tivesse sido elevada a ponto de tornar-se intolerável,
nada sofreu". Segundo outros mitos, a Santa "foi metida num banho de
água a ferver, do qual teria saído ilesa".
Almachius recorreu então
à pena capital." Três golpes vibrou o algoz sem conseguir separar a cabeça
do tronco. Cecília, mortalmente ferida, caiu por terra e ficou três dias nesta
posição. Aos cristãos que a vinham visitar dava bons e caridosos conselhos. Ao
Papa entregou todos os bens, com o pedido de os distribuir pelos os pobres.
Outro pedido foi o de transformar a sua casa em igreja, o que se fez logo
depois de sua morte". Foi enterrada na Catacumba de São Calisto.
As diversas invasões dos
godos e lombardos fizeram com que os Papas decidissem a transladação de muitas
relíquias de santos para as igrejas de Roma. O corpo de Santa Cecília ficou
muito tempo escondido, sem que se soubesse do seu jazigo.
Uma aparição da Santa ao
Papa Pascoal I (817-824) trouxe luz sobre este ponto. Achou-se o caixão de
cipreste que guardava as relíquias. O corpo, foi "encontrado intacto e na
mesma posição em que tinha sido enterrado". O esquife foi "encontrado
num ataúde de mármore e depositado no
altar de Santa Cecília". Ao lado da Santa ficaram os corpos de Valeriano,
Tibúrcio e Máximo.
Em 1599, por ordem do
Cardeal Sfondrati, foi aberto o túmulo de Santa Cecília e o corpo encontrado
estava ainda na mesma posição descrita pelo papa Pascoal. O escultor Stefano
Maderno que assim o viu, reproduziu em finíssimo mármore, em tamanho natural, a
sua imagem.
Compositores eruditos
importantes como Henry Purcell, de quem publico alguns momentos da belíssima “Ode
para o dia de Santa Cecília”, 1692, Georg Friedrich Händel e Benjamin Britten
escreveram composições em sua honra. Também John Dryden, Alexander Pope e W. H.
Auden, músicos populares se referiram a
ela, como Paul Simon, David Byrne e Brian Eno.
Túmulo de Santa Cecília |
Texto de um antigo Vilancico português para a Festa de Santa Cecília (séc. XVII):
Formosa e Divina Música!
Primogénita do Céu
Cuja proporção compreende
Quanto inclui o Universo!
Anjo dos cantores e
compositores te considero,
Pois cantas a Paz
Que o Verbo Divino traz!
Aquele que toda a ciência
em Si se contém,
De suas vozes admiráveis
fez divina composição.
De suas cadências
formando um concerto,
A Terra, a Água e o Fogo
Em música cantem Sua Eterna Glória!
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