O
HOMEM QUE SE SENTA À MINHA FRENTE
O
homem que se senta à minha frente
Conversa
comigo de coisa nenhuma.
Que
espera ele que eu lhe diga?
De
que coisas banais poderíamos falar, assim de repente?
Penso
tristemente que não tenho ideia alguma
Nem
para dizer, ou perguntar, ou entoar uma cantiga.
O
homem que olho e vejo à minha frente,
Que
espera ele da nossa conversa?
Falamos
mudamente de desencontros e memórias fugazes,
Do
passado que há-de ser quando se acabar o presente,
Do
que somos ou que fomos na realidade adversa
E
das tardes absurdas, paradas, incapazes.
O
homem que se reflete à minha frente
Não
está em parte alguma.
Olha-me
perplexo, com olhos pestanudos
Emudece
o olhar parecendo ausente
Fala-me
sem som, com palavras que o saber perfuma
E
assim ficamos durante um tempo, quedos e mudos.
JOSÉ
DE MAGALHÃES
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