Era
uma vez uma menina que pediu ao pai que fosse apanhar a lua para ela.
O
pai meteu-se num barco e remou para longe.
Quando
chegou à dobra do horizonte pôs-se em bicos de sonhos para alcançar as alturas.
Segurou
o astro com as duas mãos, com mil cuidados.
O
planeta era leve como uma baloa.
Quando
ele puxou para arrancar aquele fruto do céu se escutou um rebentamento.
A
lua se cintilhaçou em mil estrelinhacões.
O
mar se encrispou, o barco se afundou, engolido num abismo.
A
praia se cobriu de prata, flocos de luar cobriram o areal.
A
menina se pôs a andar ao contrário de todas as direções, para lá e para além,
recolhendo os pedaços lunares.
Olhou
para o horizonte e exclamou:
-
Pai!
Então,
se abriu uma fenda funda, a ferida de nascença da própria terra.
Dos
lábios dessa cicatriz se derramava sangue.
A
água sangrava?
O
sangue se aguava?
E
foi assim.
Essa
foi uma vez.
MIA
COUTO,
in "Contos do nascer da terra"
1 comentário:
Adorei ler este conto....bom fim de semana!! Beijinhos!!
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