Dia 19 de Maio é dia de festa para os advogados. É o dia de Santo Ivo, o
padroeiro dos advogados.
Ives Hélory foi Juiz, foi padre, e foi advogado. Nas inúmeras obras, sobre
Santo Ivo, é notório que estamos perante um homem que fez da prática da
solidariedade, o papel mais relevante da sua vida.
Ives Hélori nasceu a 17 de Outubro de 1253, em Kémartin, casa de campo
situada a certa distância de Tréguier, na península da Bretanha. Filho de uma
família da pequena nobreza rural, foi enviado para Paris, para realizar os seus
estudos na Sorbonne onde, entre outros, teve como professores S. Tomás de
Aquino e Alberto Magno. Aí mereceu o título de Mestre em artes que o
autorizaram a ensinar.
Painel de Lino António nos "Passos Perdidos", no hall principal da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. |
Posteriormente foi para a universidade de Orléans, onde realizou os estudos
de direito canónico e civil. É nessa época que nasce a sua fama de homem
piedoso e compassivo, que informava gratuitamente os pobres e os mais
desfavorecidos, as viúvas, órfãos, suportando do seu próprio bolso as causas
daqueles.
Apesar de Juiz e nobre suficientemente abastado, Ivo Hélory levou uma vida
de verdadeiro asceta, dormindo no chão, frequentemente fazendo jejum e
abstinência.
O exercício da magistratura não impediu Ivo de ser ordenado sacerdote em
Tréguier. Aliás, além de se ordenar presbítero aos 32 anos de idade, a tais
tarefas acrescentou pouco depois a defesa dos pobres nos tribunais, começando
aí a sua fama de “advogado dos pobres”. Renunciou a diversos cargos oficiais,
assumindo apenas a paróquia de Louannez e a defesa, como advogado e nos
Tribunais, dos pobres e inválidos.
Dono de uma humildade não simulada e de um juízo pouco lisonjeiro que fazia
de si próprio, resultava naturalmente o pouco cuidado que tinha para consigo
mesmo. Suas visitas paroquiais eram sempre realizadas a pé. Ao deixar Rennes,
por motivo de remoção, o arcebispo em reconhecimento pelos seus bons serviços,
presenteou-o com um cavalo para a viagem, mas Ivo vendeu-o logo a seguir,
distribuindo o dinheiro da venda pelos pobres, e rumou a pé para a nova
paróquia.
O que, porém, o tornou mais acatado foi a integridade invulnerável com que
exerceu durante longo tempo a árdua função de provisor do bispado, tanto em
Rénnes como em Tréguier.
De Juiz, não raro, se transformava em advogado das partes, quando estas
eram viúvas ou órfãos, ou pobres que antagonistas poderosos queriam prejudicar
ou espoliar. Como patrono deles, ainda lhes fornecia o dinheiro necessário ao
pagamento das custas dos processos que eram obrigados a pagar para a
recuperação dos seus direitos e bens.
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Faleceu cedo, com 50 anos de idade, em 1303, dando origem a uma extensa
devoção popular face à vida exemplar que levou.
Foi canonizado, mediante bula papal de Clemente VI, em Avignon, a 19 de
Maio de 1347.
O povo não quis deixá-lo incógnito. Na sua pedra tumular mandaram escrever:
“Santo Ivo era bretão; era advogado mas não ladrão; coisa admirável para o
povo”. Estas palavras no seu túmulo demonstram, para muitos historiadores, que
já em vida o povo o venerava. Quer pela sua capacidade de conciliação, quer
pela sua justeza e equidade nas decisões; quer pela sua disponibilidade
permanente para a orientação jurídica gratuita e segura daqueles que não tinham
dinheiro para a obter de outro modo.
Mas se a sua veneração cresceu em primeiro lugar no seio do povo bretão,
ela estendeu-se rapidamente aos advogados franceses e não demorou a espalhar-se
entre os juristas da Europa e do Mundo.
Depois de canonizado, tornou-se por geral consenso o patrono dos Advogados.
Em Maio de 2003, o Papa João Paulo II, proferiu uma mensagem no VII
centenário do nascimento de Santo Ivo. Dessa extensa mensagem, podemos retirar
que os valores propostos por Santo Ivo conservam uma atualidade surpreendente:
a Europa dos direitos humanos deve fazer com que os elementos objetivos do
direito natural permaneçam no fundamento das leis positivas.
Santo Ivo recorda-nos que o direito foi concebido para o bem das pessoas e
dos povos em geral, e que a sua função essencial consiste em salvaguardar a
dignidade inalienável do indivíduo em cada uma das fases da sua existência,
desde a concepção até à morte.
A vida e obra de Santo Ivo são um bom exemplo e,
sem dúvida, um modelo a seguir para todos os que procuram honrar a nobre
profissão de advogado.
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