sábado, julho 09, 2011

PABLO NERUDA (1904 - 1973)

 

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
(Últimos Poemas - Pablo Neruda)



Pablo Neruda, cujo nome verdadeiro é Neftalí Ricardo Reyes Basoalto, nasceu em 12 de julho de 1904, na cidade do Parral, no Chile. Seu pai era um funcionário ferroviário e sua mãe, que morreu pouco tempo após o seu nascimento, foi professora. Alguns anos depois, seu pai, que tinha voltado a casar com dona Trinidad Candida Malverde, mudou-se para a cidade de Malverde.

Pablo Neruda

A infância e juventude do poeta foram passadas em Temuco, onde conheceu Gabriela Mistral, diretora da escola feminina secundária, que se tornou numa grande protetora e sua amiga. Com a idade de treze anos, começou a publicar os seus primeiros artigos para jornais e também o seu primeiro poema. Em 1920, tornou-se colaborador do jornal literário Selva Austral, sob o pseudónimo de Pablo Neruda, que adotou em memória do poeta checoslovaco, Jean Neruda.

Alguns dos poemas de Neruda, escritos naquela época, podem ser encontrados no seu primeiro livro Crepusculário (1923). No ano seguinte publicou  Veinte Poemas de Amor e una Cancion Desesperada, que veio a tornar-se numa das obras mais conhecidas e traduzidas. Conjuntamente com a sua atividade literária, Neruda estudou francês e pedagogia na Universidade do Chile, em Santiago.

Neruda e sua esposa Matilde

Entre 1925 e 1937, o Governo nomeou-o para  dirigir diversos consulados honorários, facto que o levou para a Birmânia, Ceilão, Java, Singapura, Buenos Aires, Barcelona e Madrid. A sua produção poética durante este período difícil, incluíu, entre outras obras, a coleção de poemas esotéricos Residencia en la tierra , que marcou o início da sua produção literária. A Guerra Civil Espanhola e o assassinato de García Lorca, que Neruda conhecia, afectaram-no fortemente e fizeram com que aderisse ao movimento republicano, primeiro em Espanha, e mais tarde em França, para onde se mudou e continuou a publicação de poemas, agora orientados para assuntos políticos e sociais.

Pablo Neruda e Salvador Allende

España en el corazón, teve um grande impacto devido ao facto deter sido imprimido no meio da frente, durante a guerra civil. Posteriormente, quando nomeado Cônsul Geral do México, reescreveu o seu Cantico General de Chile e transformou-o num poema épico sobre todo o continente sul-americano, o seu povo e a sua história. Este trabalho, intitulado Canto Geral, foi publicado no Chile e no México, e constitui a parte central da sua produção, traduzido em cerca de dez idiomas.

Regressado ao Chile, envolveu-se nos tumultos políticos internos, aderiu ao Partido Comunista do Chile e devido aos seus protestos contra a política repressiva do Presidente Vilela, viu-se obrigado a viver, escondido e no anonimato por um período de dois anos, findos os quais partiu para o estrangeiro. Depois de viver em diferentes países, em 1952 retornou a casa. A sua obra publicada nesta época, reflete toda a instabilidade, lutas e actividade política que Neruda viveu.

Casa museu de Neruda, em Isla Negra, perto da qual
se encontra a sua sepultura.

Entre os trabalhos que marcam os seus últimos anos podem ser citados Cien sonetos de amor(1959), que inclui poemas dedicados a sua esposa Matilde Urrutia, Memorial de Isla Negra, de carácter biográfico, em cinco volumes, Arte de pajaros, La barcarola e vários outros, por ocasião do seu 60.º aniversário.

De acordo com Isabel Allende, Pablo Neruda morreu de tristeza em setembro de 1973, ao ver dissolvido o governo de Salvador Allende.
Logotipo do filme "Il Postino",
ou o "Carteiro de Pablo Neruda".


Na realidade, a sua morte foi originada por um câncro na próstata. Em vida, foi agraciado com o Prémio Lenin da Paz e em 1971 foi-lhe atribuído o Nobel da Paz.

Já em 1965 lhe havia sido autorgado o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha.


Da sua vasta obra, escolhi estes dois poemas, qual o mais belo...:



Posso escrever os mais tristes esta noite...

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a por vezes e ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.
                                (Poema XX de "Vinte poemas e uma canção desesperada")



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