PEÇO-TE. NÃO PISES AS
VIOLETAS
Peço-te. Não pises as
violetas
que trago no olhar.
Falemos dos brilhos
estilhaçados
desta casa súbita que é
o teu corpo
devoluto. A noite
devora as palavras possíveis,
o sofrimento que pulsa
em tua boca
e torna a minha boca
vulnerável.
O amor é um nada que a
liberta, uma luz
que desce dos ombros
para o ventre
e fecunda as sementes
da tua virgindade,
essa que faz agora
parte de uma dor quase
amigável, na lividez do
tempo,
e que entregas em
minhas mãos, beijando-as,
tornando-te parte dos
meus versos, da
minha forma mais
profunda de gostar
de ti.
Amar-te, é escrever-te.
Amar-te é deixar que me
toques até ser teu,
até que te deites no
meu corpo e adormeças
inteira dentro de mim.
Peço-te. Não pises as
violetas
que trago no olhar.
Cheiram a ti. São para ti.
Um “bouquet” de
palavras que floriram
neste tempo de amor.
JOAQUIM PESSOA,
Poema quadragésimo
sexto,
Dezembro 8, 2013
in “Guardar o Fogo”
(Ed. Edições Esgotadas, 2013)
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