GAIA DEUSA-TERRA
PARIDEIRA
Era uma vez... e era
uma vez primeira.
E era uma vez ninguém,
mas que se fez parideira.
E passou a ser alguém.
E era uma vez uma mãe.
E era uma vez uma
deusa.
Não porque era deusa,
mas porque era mãe.
E era uma vez o céu
também, a cobrir a terra inteira.
E era uma vez a
deusa-mãe a tirar filhos da algibeira.
E era uma vez muitos
filhos de uma só mãe.
Alguns eram filhos dos
filhos e eram filhos também.
E no útero de uma mãe
cabe
a profundidade do mar e
a altivez da montanha.
E por vezes cabe a dor
tamanha
de gerar toda uma
guerra de titãs.
Porque nem todos os
filhos são manhãs,
e às vezes, quantas
vezes, são revezes e escuridão,
porque se uns são
filhos, os outros filhos são,
mas uns nascem na luz e
outros não.
E por vezes, por vezes
é preciso dar tempo ao tempo
para que a terra do céu
seja decepada,
porque o útero que gera
o amor também gera a espada.
E por vezes, quantas
vezes, sabemos bem,
serem os filhos os
carrascos de sua mãe.
e a morte será a filha
derradeira,
da deusa-mãe,
terra-parideira.
JOÃO MORGADO,
"Arte poesia", pág.113,
Ed:"Edições Oz", 2015
"Arte poesia", pág.113,
Ed:"Edições Oz", 2015
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