DESENHA COM A PONTA DOS TEUS DEDOS
Desenha com a ponta dos teus dedos
As fronteiras exactas do meu rosto
As rugas os sinais a cicatriz que ficou da infância
O lento sulco das lâminas onde no peito
Se enterra o mistério do amor
E diz-me
O que de mim amaste noutros corpos
Noutras camas noutra pele
Prometo que não choro mas repete
As palavras minhas que um dia sem querer
Misturaste nas tuas e levaste
Com as chaves da casa e os documentos do carro
- largaste sobre a mesa com o copo de gin a meio
Na primeira madrugada em que me esqueceste.
ALICE VIEIRA,
in "Arte poesia"(Ed: OZEDY), pág.36
Alice Vieira |
Alice Vieira
nasceu em 1943, em Lisboa. É licenciada em Filologia Germânica pela Faculdade
de Letras de Lisboa.
Iniciou a sua
carreira de jornalista aos 18 anos, no Diário de Lisboa. Trabalhou em vários
jornais, entre os quais o Diário de Notícias, a cuja redação pertenceu até
1990, data em que deixou o jornalismo diário, para ficar como free-lancer,
sendo durante muitos anos colaboradora do Jornal de Notícias e da revista
Activa. Atualmente está reformada do jornalismo, mas trabalha no Jornal de
Mafra e, desde há 13 anos, na revista juvenil Audácia, dos missionários
combonianos.
Em 1979 publicou o
seu primeiro romance juvenil — Rosa, Minha Irmã Rosa — que nesse ano ganhou o
“Prémio de Literatura do Ano Internacional da Criança”. Desde então tem
publicado regularmente romances juvenis, poesia, teatro, recolhas de histórias
tradicionais, livros infantis.
Recebeu o prémio
Calouste Gulbenkian em 1983 pelo seu livro Este Rei Que Eu Escolhi; o Grande
Prémio Gulbenkian pelo conjunto da obra (1984); o Prix Octogone pela edição
francesa de Os Olhos de Ana Marta (2000); a “Estrela de Prata do Prémio Peter
Pan” pela edição sueca de “Flor de Mel”, e foi várias vezes distinguida com o
Prémio Corvo Branco, atribuído pela Biblioteca Internacional da Juventude de
Munique.
Fez parte da equipa
de escritores dos programas de televisão “Rua Sésamo”, “Jornalinho”, “Hora
Viva”, “Arco-Íris”, etc.
Ultimamente tem-se
também dedicado à literatura para adultos, com três volumes de crónicas (Bica
Escaldada, Pezinhos de Coentrada e O Que Se Leva Desta Vida), o romance
histórico Os Profetas, uma biografia da escritora inglesa Enid Blyton, o livro
autobiográfico Histórias da Avó Alice, três livros de poemas -- Dois Corpos
Tombando na Água (Prémio Maria Amália Vaz de Carvalho), O Que Dói às Aves, e Os
Armários da Noite — e o livro Tejo, juntamente com o fotógrafo brasileiro Neni
Glock. Participou ainda, com mais seis autores, em romances coletivos como
Novos Mistérios de Sintra, O Código de Avintes, Eça Agora, 13 Gotas ao Deitar
e, mais recentemente, A Misteriosa Mulher da Ópera.
Orienta
regularmente oficinas de escrita criativa. Desloca-se quase
diariamente a escolas e bibliotecas de todo o país – e também de países onde os
seus livros estão traduzidos (Espanha, Alemanha, Holanda, Itália, Suécia,
Sérvia, etc.).
É publicada
regularmente em língua francesa pela editora La Joie de Lire— onde já saíram os
romances juvenis Viagem à Roda do Meu Nome (Voyage Autour de Mon Nom), Flor de
Mel (Fleur de Miel), Os Olhos de Ana Marta (Les Yeux d’Ana Marta), Caderno de
Agosto (Cahier d’Août) e O Casamento da Minha Mãe (Le Mariage de Ma Mère) e,
mais recentemente, o livro de poemas para crianças A Charada da Bicharada (La
Charade des Animaux).
Participou com o
maestro Eurico Carrapatoso no conto musical A Arca do Tesouro (interpretada
pela Orquestra Metropolitana de Lisboa); e o compositor Sérgio Azevedo musicou
a Charada da Bicharada, recentemente editada em CD.
É membro da direção
da Sociedade Portuguesa de Autores.
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