A CASA
Tu és uma casa.
Gosto de olhar pela
janela
para dentro de ti
Confesso
por vezes gosto de me
fazer convidado
de esfregar uns beijos
no tapete de entrada
e entrar como não quer
nada
apesar de querer tudo.
Tudo.
Absolutamente
tudo!
Chego para pedir
um poucochinho de
açúcar
um nico sal
um raminho de salsa
um suave torvelinho de
ternuras
Chego para pedir coisas
pequenas
que não te façam falta
na esperança de que dês
pela minha falta
nas pequenas coisas que
te peço
Às vezes digo que
passei só por passar
com medo de confessar a
intenção.
Digo que tropecei no
teu olhar
que foi sem querer
- desculpa,
se te peguei na mão!
Suspiro baixinho
que encalhei no teu
carinho
Sim, baixinho
mas não muito, pois
confesso
…a intenção é que me
oiças!
Tu és uma casa.
Gosto de olhar pela
janela
para dentro de ti.
Por vezes gosto de me
fazer convidado
e fico feliz quando me
abres
as portadas dos teus
braços.
Mas gostava tanto,
tanto, mas tanto,
quer fosses tu a
convidar-me
a oferecer o tapete de
entrada aos meus beijos
a dar a chave da porta
aos meus desejos.
Queria deixar do lado
de fora
a desculpa de que vim
pelo cheiro do café que
é o teu perfume.
Queria estar ao fogão
a acender-te o lume.
Queria estar sentado
contigo à mesa,
sentado, a teu lado,
numa mesa a dois,
para te dizer depois ao
que vim,
para te dizer depois, e
por fim,
que não quero ser mais
o teu convidado,
que quero o teu corpo
habitado
…por mim!
Tu és uma casa.
Deixa-me olhar pela
janela
para fora de ti!
JOÃO MORGADO,
In
«Para Ti»
2014(Ed:
Kreamus)
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