O BAILARINO - Pássaro
do Chão
O Bailarino é um
pássaro do chão,
como outros são do céu.
São a inveja das
árvores que não voam
a inveja das pedras com
musgo
dos pesados Homens que
não dançam.
Quem te ensinou a voar?
Foi a magia do vento?
Foi o vento que te
ensinou a ser folha bailadeira
em vez de árvore?
A ser poeira
malabarista em vez de pedra?
A ser artista e a
altear os pés sem estar preso?
A recolher as raízes, a
vomitar o peso?
O Bailarino é um
pássaro do chão,
como outros são do céu.
O seu corpo é uma recta
onde cabem
todas as curvas de um
véu.
Feito de ar, nervos
d’aço, é fio-de-prumo aberto em compasso.
Quem te ensinou a voar?
Foi o milagre dos
deuses?
Foram os deuses que te
ensinaram
a intensidade e a
leveza?
O brilho dos reflexos,
a elegância da espuma?
O enlaçar da poesia e
das emoções uma a uma,
uma a uma?
O Bailarino é um
pássaro do chão,
como outros são do céu.
Quem te ensinou a voar?
- Aprendi na dor…!
Sim, o Bailarino é um
pássaro
as suas asas são da
dimensão da dor
um pássaro moldado em
rasgado movimento
que se repete, se
repete, se repete…
quantas vezes? -
setenta vezes sete
até que reste um corpo
alquebrado
maltratado, castigado,
torturado
e se abra um sulco de
arado na alma…
- Sem direito ao céu, o
Bailarino é um pássaro bastardo,
que sem magias nem
milagres aprende
a voar em contraluz,
deixando o sangue no
estrado
onde apenas o suor
reluz!
- Ahhh… mas quando
dança…
quando dança é pássaro
por inteiro
esquece a mágoa e o sofrimento
desliza como água, é
música em movimento
ganha asas, ganha
vento, ganha os ares a sonhar
abre em arco os seus
braços, risca lume no ar
e em pose de
conquistador, rei d’aquém e d’além dor
vai onde o corpo
alcança
e é num segundo
senhor do mundo
num subtil passo de
dança!
JOÃO MORGADO,
in“CNB
e os Poetas”
Ed:
Companhia Nacional de Bailado
João Morgado nasceu em 1965, em Aldeia do
Carvalho, Covilhã, Portugal. É formado em Comunicação pela Universidade da
Beira Interior e tem um mestrado em Estudos Europeus na Universidade de
Salamanca, Espanha.
Trabalhou
como jornalista e, para além da imprensa regional, escreveu no diário “Público”
e semanário “Sol”. Consultor de comunicação nos meios empresariais e políticos,
é atualmente chefe de Gabinete do Presidente da Câmara de Belmonte.
Na
literatura, afirmou-se com dois romances: «Diário dos Infiéis», 2010, e «Diário
dos Imperfeitos», 2012. Estas duas obras foram adaptadas ao teatro pela ASTA –
Associação de Teatro e outras Artes.
A
sua incursão no romance histórico deu-se com a obra «VERA CRUZ», um romance
histórico sobre a vida desconhecida de Pedro Álvares Cabral e que apresenta uma
nova versão sobre as verdadeiras razões que o levaram a desviar a frota e
chegar a um novo continente, e tomar oficialmente para Portugal as que são hoje
as terras do Brasil.
Este
livro teve ainda uma versão para crianças «Cabralito», com ilustrações de Bruno
Picoto.
O
romance «VERA CRUZ» serviu ainda de base a uma sinfonia para Orquestra
Sinfónica, com Coro e Soprano. Uma obra composta pelo maestro João Pedro
Delgado, que teve a direção da orquestra do maestro Gustavo Delgado e Dora
Rodrigues como soprano convidada. Os músicos da orquestra selecionados entre
oito escolas de música do distrito de Castelo Branco. A estreia ocorreu a 21 de
Maio, no TMG - Teatro Municipal da Guarda.
Recentemente
lançou «ÍNDIAS», um romance biográfico dedicado a Vasco da Gama, o herói
imperfeito, que foi odiado por todos mas amado por D. Manuel I e ficou na
história de Portugal por ter sido o primeiro navegante a chegar às Índias das
especiarias.
Entre
os livros publicados, destacamos ainda «Meio-Rico», contos, 2011; «Pássaro dos
Segredos», conto ilustrado, 2014; «Para Ti», poesia, 2014. É coordenador do
DIÁSPORA – Festival Literário de Belmonte
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