"Os
dois sonetos de amor da Hora Triste", foi o poema escolhido para marcar a
cerimónia de despedida do dr. Mário Soares(1924-2017), ex-primeiro ministro e primeiro Presidente
da República Portuguesa eleito depois do
25 de Abril. Poema carregado de simbolismo, foi declamado pela companheira de
66 anos de vida do antigo presidente da República, dra. Maria Barroso, falecida
a 7 de julho de 2015, num dos momentos mais emotivos da cerimónia de despedida.
Esta mensagem é a homenagem derradeira
que “Preto, Branco, E…” presta a este ilustre casal, símbolo da união, da
democracia e da liberdade em Portugal.
RIP
OS DOIS SONETOS DE AMOR
DA HORA TRISTE
Quando eu morrer - e
hei de morrer primeiro
Do que tu - não deixes
de fechar-me os olhos
Meu Amor. Continua a
espelhar-te nos meus olhos
E ver-te-ás de corpo
inteiro.
Como quando sorrias no
meu colo.
E, ao veres que tenho
toda a tua imagem
Dentro de mim, se,
então, tiveres coragem,
Fecha-me os olhos com
um beijo.
(Eu, Marco Póli)
Farei a nebulosa
travessia
E o rastro da minha
barca
Segui-los-á em
pensamento.
Abarca
Nele o mar inteiro, o
porto, a ria...
E, se me vires chegar
ao cais dos céus,
Ver-me-ás, debruçado
sobre as ondas, para dizer-te adeus,
II
Não um adeus distante
Ou um adeus de quem não
torna cá,
Nem espera tornar. Um
adeus de até já,
Como a alguém que se
espera a cada instante.
Que eu voltarei. Eu sei
que hei de voltar
De novo para ti, no
mesmo barco
Sem remos e sem velas,
pelo charco
Azul do céu, cansado de
lá estar.
E viverei em ti como um
eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores
para fora,
Amor, que tu bem sabes
que quem chora
Assim, mente. E, se
quiseres partir e o coração
To peça, diz-mo. A
travessia é longa... Não atino
Talvez na rota. Que nos
importa, aos dois, ir sem destino?
ÁLVARO FEIJÓ
Álvaro de Castro e Sousa Correia Feijó (1916-1941) foi um poeta português, natural de Viana do Castelo. Faleceu de cancro quando ainda não tinha completado os vinte e cinco anos de idade. Fez os estudos secundários no colégio dos jesuítas de La Guardia, na vizinha Galiza, inscrevendo-se seguidamente na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Influenciado pela obra de seu tio-avô António Feijó (1859-1917), introdutor e cultor exímio do "Parnasianismo " francês no nosso país, surgem os "Primeiros Versos" de Álvaro Feijó que, segundo os críticos, constituem a manifestação de um talento poético embrionário.
Os seus versos são publicados em revistas como Sol Nascente, O Diabo, Altitude e Seara Nova e, postumamente, no Novo Cancioneiro. Companheiro no exercício poético de Políbio Gomes dos Santos, Joaquim Namorado, José João Cochofel e Carlos de Oliveira, formado nos princípios da escola neo-realista, a sua poesia sofre a trágica influência da guerra civil de Espanha, entre 1936-1939, e da segunda Grande Guerra.
Corsário (1940), o único livro
que publicou em vida, é o apelo fundamental à reforma da sociedade e da justiça
social e ao esvaziamento dos conteúdos religiosos, substituídos por temas
laicos. Mas é no âmbito da temática religiosa que a poesia de Álvaro Feijó
atinge uma perfeição notável de fundo e de forma, como no poema "Senhora
da Apresentação", que constitui uma súmula dos vectores temáticos do
neo-realismo.
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