O ARDINA
Já vi a água morta.
Já escutei a ventania torta.
Já vi a terra chover
Já escutei a pedra sofrer.
Tudo isto me disse
o menino que todos os dias,
me traz o jornal.
O menino falou
e a omoplata lhe subiu
a sustentar o peso dos graves carregos.
A cidade emagrecia
nos ombros da criança.
O passo do menino
não foi feito para um caminhar tão escravo.
Ainda chamei.
Mas a cidade, devoradora de infância,
já engolira o pequeno ardina.
Nessa tarde,
o tédio me descoloria,
tudo estava morto,
faltava morrer o cemitério.
Foi quando o ardina
voltou a anunciar
o que vira e escutara
na água, na terra, na pedra e na chuva.
Foram as melhores notícias
que ele alguma vez me trouxe.
MIA COUTO
(Idades, cidades, divindades, pág. 64)
Já vi a água morta.
Já escutei a ventania torta.
Já vi a terra chover
Já escutei a pedra sofrer.
Tudo isto me disse
o menino que todos os dias,
me traz o jornal.
O menino falou
e a omoplata lhe subiu
a sustentar o peso dos graves carregos.
A cidade emagrecia
nos ombros da criança.
O passo do menino
não foi feito para um caminhar tão escravo.
Ainda chamei.
Mas a cidade, devoradora de infância,
já engolira o pequeno ardina.
Nessa tarde,
o tédio me descoloria,
tudo estava morto,
faltava morrer o cemitério.
Foi quando o ardina
voltou a anunciar
o que vira e escutara
na água, na terra, na pedra e na chuva.
Foram as melhores notícias
que ele alguma vez me trouxe.
MIA COUTO
(Idades, cidades, divindades, pág. 64)
Maputo, 2005
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