Mário Alberto Freire Moniz Pereira (11 de fevereiro de
1921-31 de julho de 2016) foi um professor, desportista, atleta, treinador e
autor de canções. Foi praticante de andebol, basquetebol, futebol, hóquei em
patins, ténis de mesa, voleibol e atletismo. Moniz
Pereira estava internado no Hospital Curry Cabral, em Lisboa, onde morreu com
uma pneumonia.
Era conhecido em Portugal como "Senhor Atletismo" e é considerado o principal responsável pelas conquistas na modalidade depois da chegada da democracia ao país.
Era conhecido em Portugal como "Senhor Atletismo" e é considerado o principal responsável pelas conquistas na modalidade depois da chegada da democracia ao país.
O antigo atleta e treinador de atletismo era o sócio número 2 do Sporting, clube ao qual dedicou grande parte do seu esforço pela promoção e desenvolvimento daquela modalidade. Foi treinador de atletas como Carlos Lopes, Fernando Mamede e os gémeos Castro e, mais recentemente, de Francis Obikwelu e Naide Gomes
Bruno de Carvalho, presidente do Sporting, classificou-o
como “um homem que fabricou campeões que ganharam tudo o que havia para
ganhar”. Em comunicado, o Presidente da República disse: “ Morreu “um homem bom”. Deixa uma vida
repleta de bons exemplos, de devoção ao Desporto e aos desportistas, tendo ele
próprio sido uma glória do atletismo nacional”
Ao todo, esteve presente em 12 Jogos Olímpicos. Começou e
acabou em Londres, entre os Jogos Olímpicos de 1948 e 2012.
Da primeira ocasião, a guerra tinha acabado há pouco
tempo e Londres ainda estava muito destroçada. Na memória também ficou um erro
que cometeu naquela edição dos Jogos Olímpicos: “Quando pedi uma fita para
medirmos a corrida dos atletas antes dos saltos não me apercebi de que aquilo
era em polegadas em vez de centímetros”. Como resultado, os atletas “começaram
a trocar os pés na corrida de balanço. Foi uma chatice, porque podíamos fazer
uma boa figura”, declarou em entrevista a jornalistas.
Essa boa figura chegou alguns anos mais tarde, naquele
que foi o momento mais alto da sua carreira enquanto treinador: a vitória de
Carlos Lopes na maratona dos Jogos Olímpicos de 1984, em Los Angeles. Nessa
altura, já levava quase quatro décadas como treinador de atletismo. “Demorou 39
anos [a acontecer] o que toda a gente dizia ser impossível”, disse daquele
momento, numa entrevista em 2013 à comunicação social. “Chorei que nem uma
Madalena no dia em que aconteceu. Toda a gente dizia que era impossível e eu
derrotei os impossíveis.”
Além do atletismo, onde era profissional, era-lhe reconhecido mérito como compositor de fado e letrista, que exercia com fulgor de um amador empenhado. Foi o autor mais de 120 sucessos, entre fados e canções, que compunha no piano, que foi uma herança de família. Nos estágios, tocava piano relaxar os seus atletas.
Ao longo da sua carreira de treinador, foi especialmente persistente na sua demanda de elevar o nível do atletismo português. “Tinha gosto em que Portugal tivesse atletas de categoria internacional e toda a gente dizia que era maluco”, lembrou, na mesma entrevista de 2013. “E eu respondia: ‘Julgam que somos diferentes, mas não somos. Deem-nos possibilidades de demonstrar'”, costumava dizer.
Até àquele fatídico 12 de agosto de 1984 em que Carlos Lopes subiu ao pódio em Los Angeles, teve sempre o mesmo sonho: “Que um dia um atleta treinado por mim vá aos Jogos Olímpicos ganhar a medalha de ouro e que eu ouça o hino português ouvido em toda a parte do Mundo”.
Treinador de várias gerações de atletas portugueses, Moniz Pereira ficou conhecido entre eles pela disciplina. Uma coisa era certa e
sabida para os seus atletas: o treino era às 9h00. Até quando Carlos Lopes foi
campeão de crosse em Nova Iorque em março de 1984, a poucos meses de vencer a
maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, a regra manteve-se inalterada.
“Professor, não diga que hoje não há festa!”, atiraram-lhe os atletas. A
resposta devolvida fez jus à sua reputação: “Claro que há festa! Podemos beber
champanhe, só que o avião para Lisboa parte às quatro da tarde e amanhã há
treino às 9h00”.
Moniz Pereira era proveniente de uma família abastada de
Lisboa. Ainda chegou a concorrer à Escola do Exército, juntamente com o irmão
Nuno, um ano mais novo. As provas físicas correram bem ao dois, mas no exame de
Álgebra Superior e a Geometria Descritiva teve nota negativa, ao contrário do
irmão. “Foi o melhor chumbo da minha vida”, disse. “Se tivesse entrado talvez
já estivesse morto, porque teria ido para a guerra.” Em família, a sua opção
por desporto nem sempre era bem vista. “O Nuno é oficial do Exército e o Mário
anda a estudar para palhaço!”, dizia o avô de ambos. “Não fiquei muito
ofendido, porque também gosto de palhaços.”
Já nos seus últimos anos de vida, era com regularidade
que demonstrava desagrado com o estado do atletismo português. Muitas vezes
dizia que Portugal vive uma “ditadura futebolística”. Não é que não gostasse de
futebol, tanto que foi preparador físico da equipa principal de futebol do
Sporting que veio a ser campeã nacional em 1970/71. O problema era antes a
falta de espaço que sobra para os outros desportos.
Essas críticas estendiam-se ao seu clube, o Sporting. “A
primeira coisa que me tramou foi quando o Sporting fez um estádio sem pista de
atletismo”. Numa entrevista em 2012, em vésperas dos Jogos Olímpicos de
Londres, também tocou nesse assunto. “Temos de andar a treinar em vários
sítios, nem pavilhão há…”, lamentou. “Além de que o clube tem um orçamento
maior para o futsal do que para o atletismo. Onde já se viu, jogar futebol
fechado numa casa!”
Quando lhe
perguntaram como gostaria de ser recordado no futuro, respondeu: “Isso já não
me interessa nada. Tive uma vida muito bonita, porque fiz sempre aquilo de que
gosto, e fi-lo bem”.
Ou então,
como diz o fado que ele próprio compôs, “valeu a pena”.
Descanse em paz
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