GRITA
Amor,
quando chegares à minha fonte distante,
cuida
para que não me morda tua voz de ilusão:
que
minha dor obscura não morra nas tuas asas,
nem
se me afogue a voz em tua garganta de ouro.
Quando
chegares, Amor
à
minha fonte distante,
sê
chuva que estiola,
sê
baixio que rompe.
Desfaz,
Amor, o ritmo
destas
águas tranquilas:
sabe
ser a dor que estremece e que sofre,
sabe
ser a angústia que se grita e retorce.
Não
me dês o olvido.
Não
me dês a ilusão.
Porque
todas as folhas que na terra caíram
me
deixaram de ouro aceso o coração.
Quando
chegares, Amor
à
minha fonte distante,
desvia-me
as vertentes,
aperta-me
as entranhas.
E
uma destas tardes — Amor de mãos cruéis —,
ajoelhado,
eu te darei graças.
PABLO NERUDA
In
Crepusculário, 1923
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