SEM ABRIGO
Despertou-a a madrugada
e enrolada num cartão,
encontrou-a ainda deitada
na porta de uma escada,
sem casa nem colchão.
Estava magra, despenteada,
sem trabalho nem pão,
do que foi, humilhada.
Sem lhe darem a mão
sentiu o frio que vinha do chão.
À fome estava habituada.
Mas já sem viço nem vigor,
velha e desdentada,
sem família e sem amor,
não mais a acordaria a madrugada.
TERESA ALMEIDA GONÇALVES,
in Entre o Sono e o Sonho, Vol. VI
(Antologia de Poesia Contemporânea)
2 comentários:
Maravilhosa forma de enfeitar a vida, a deriva da miséria e o esquecimento humano sobre quem somos, em conjunto, sendo indivíduos apenas!
Parabéns à autora e a si, minha amiga!
Obrigada pelo comentário, e peço desculpa de só agora agradecer a sua atenção. Este assunto dos sem abrigo, além de comovente com as suas estórias de vidas, são uma consequência vergonhosa do abandono dos idosos entre nós e não só...Muito por todo o mundo.
Enviar um comentário