APRESENTAÇÃO
Cantar não é
talvez suficiente.
Não porque
não acendam de repente as noites
tuas
palavras irmãs do fogo
mas só
porque palavras são
apenas chama
e vento.
E contudo
canção
só cantando
por vezes se resiste
só cantando
se pode incomodar
quem à
vileza do silêncio nos obriga.
Eu venho
incomodar.
Trago
palavras como bofetadas
e é inútil
mandarem-me calar
porque a
minha canção não fica no papel.
Eu venho
tocar os sinos.
Planto
espadas
e transformo
destinos.
Os homens
ouvem-me cantar
e a pele
dos homens
fica arrepiada.
E depois é madrugada
dentro dos
homens onde ponho
uma
espingarda e um sonho.
E é inútil
mandarem-me calar.
De certo
modo sou um guerrilheiro
que traz a
tiracolo
uma
espingarda carregada de poemas
ou se
preferem sou um marinheiro
que traz o
mar ao colo
e meteu um
navio pela terra dentro
e pendurou
depois no vento
uma canção.
Já disse:
planto espadas
e transformo
destinos.
E para isso
basta-me tocar os sinos
que cada
homem tem no coração.
MANUEL
ALEGRE,
(In Praça da
Canção)
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