domingo, maio 10, 2015

A PROPÓSITO DO DIA DA EUROPA, ONTEM - "Renshi EU", um poema a 28 mãos







RENSHI EU
(Portugal)



…Apontas para o rosto sarcástico do sol do Inverno
E disparas. Há tantos meses que não chove - reparaste?
É o próprio céu a desistir de ti. E mesmo assim tu disparas, sós sabes disparar.
Estás enganada, Europa. Envelheceste mal e perdeste a humildade.
Não é contra o sarcasmo que disparas, não é contra o Inverno,
Nem sequer contra o insólito, contra o desespero.
Tu disparas contra a luz.
Podes atirar-nos à cara, Europa: bombas, palavras, relatórios de contas.
Podes até atirar-nos à cara um deputado, uma cimeira.
Mas os teus filhos não querem gravatas. Os teus filhos querem paz.
Os teus filhos não querem que lhes dês a sopa. Os teus filhos querem trabalhar.
Há tantos meses que não chove - reparaste?
A terra está seca. Nem abraçados à terra conseguimos dormir.
Enquanto eu te escrevo, tu continuas a fazer contas, Europa.
Quem deve. Quem empresta. Quem paga.
Mas os teus filhos têm fome, têm sono. Os teus filhos têm medo do escuro.
Os teus filhos precisam que lhes cantes uma canção, que os vá adormecer.
Eu acreditei em ti e tu roubaste-me o futuro dos meus irmãos.
Se estamos calados, Europa, é apenas porque, contrários ao teu gesto,
Não queremos disparar.


FILIPA LEAL
(a seguir...)



O poema começou a ser escrito na Grécia, país europeu mais afetado pela crise das dívidas soberanas. Mas também a pátria da democracia e da cultura europeias. E o lírico grego Yannis Stiggas foi o seu iniciador. Cada poeta começa a partir do último verso do poema anterior, dando origem a uma obra gigantesca que espelha uma miríade de olhares e referências culturais. Trata-se de um poema escrito em cadeia ( "renshi") por todos os participantes, num total de 28.

E aqui temos a prestação da jovem jornalista representante de Portugal, Filipa Leal.

Que eu considero notável, bem o espelho da alma dos portugueses e também dos cidadãos dos países que vivem os tempos da crise devoradora que assola as respetivas pátrias. Passados dois anos sobre esta participação e após muita pesquisa não encontrei ainda o poema final… Será que o poema se perdeu?... Ou não encontrou mais Europa?



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