UM ABRAÇO PARA MANOEL
Dizem que entre nós
há oceanos e terras com peso de
distância.
Talvez. Quem sabe de certezas
não é o poeta.
O mundo que é nosso
é sempre tão pequeno e tão
infindo
que só cabe em olhar de menino.
Contra essa distância
tu me deste uma sabedora
desgeografia
e engravidando palavra africana
tornei-me tão vizinho
que ganhei intimidades
com a barriga do teu chão
brasileiro.
E é sempre o mesmo chão,
a mesma poeira nos versos,
a mesma peneira separando os
grãos,
a mesma infância nos devolvendo
a palavra
a mesma palavra devolvendo a
infância.
E assim,
sem lonjura,
na mesma água
riscaremos a palavra
que incendeia a nuvem.
MIA COUTO
19-12-2013
(Poema escrito hoje, por Mia Couto, ao poeta Manoel de Barros)
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