terça-feira, janeiro 15, 2013

PARQUE MAYER, A "BROADWAY PORTUGUESA" - A Revista à Portuguesa












A Revista é um género de teatro, de gosto marcadamente popular, que teve alguma importância na história das artes cénicas, tanto no Brasil como em Portugal, que tinha como caracteres principais a apresentação de números musicais, apelo à sensualidade e a comédia leve com críticas sociais e políticas, e que teve seu auge em meados do século XX.
Em Portugal, em termos gerais, consta de várias cenas de cariz cómico, satírico e de crítica política e social, com números musicais. É caracterizada também por um certo tom Kitsch - com bailarinos vestidos de forma mais ou menos exuberante (plumas e lantejoulas), além da forma própria de declamação do texto, algo estridente. 


Cartazes de algumas das mais antigas Revistas à Portuguesa

Algumas revistas marcaram épocas - no Estado Novo português, por exemplo, o espectáculo de revista conseguia passar mensagens mais ou menos revolucionárias e de crítica ao regime vigente. Estão nessa situação algumas revistas protagonizadas, por exemplo, por Raul Solnado, no Parque Mayer - a "catedral da revista à portuguesa".
A primeira Revista à Portuguesa subiu ao palco do extinto Teatro Gymnasio, nos finais do séc. XIX.

Actualmente o Teatro de Revista subsiste apenas no Parque Mayer, mais concretamente no Teatro Maria Vitória graças ao empresário Helder Freire Costa - com 47 anos de carreira - que tudo tem feito para que este espaço e tipo de teatro não desapareçam de vez. Este empresário tem lutado afincadamente toda a sua vida para a preservação deste espaço e tem conseguido a sua manutenção graças a essa luta. 
Na atualidade, assistimos ainda a uma tentiva de fazer reviver a revista pelo empresário Filipe La Féria. Grande empreendedor e homem de realizações espetaculares, rapidamente conferiu o "carisma" de espetáculo "musical" à tradicional Revista à Portuguesa. 
E nesta nova faceta da revista, tem realizado musicais perfeitamente notáveis, dos quais se destacam o primeiro, "Passa por mim no Rossio", no Teatro de D. Maria II, e "Amália", vários anos em cartaz no Teatro Politeama


1-Corinne Freire                                       2-Beatriz Costa                                          3-Hermínia Silva


Criado no início dos «loucos anos 20» com a ambição de ser um pólo teatral, o Parque Mayer impôs-se como centro do teatro de revista e feira popular moderna, sobreviveu à censura de Salazar e Caetano, à rádio e ao cinema, ao futebol, ao partidarismo da revolução, à televisão e às telenovelas. É um «sempre-em-pé», embora tenha atravessado várias crises. Fixou-se no imaginário nacional como a «catedral da revista», uma Broadway à portuguesa. 
A suposta decadência não evitou a gula disfarçada de propostas de remodelação urbanística, em crescendo desde finais dos anos 60. Uma boa ocasião para revisitar este palco maior, os seus fazedores, os seus espectáculos, o seu público, as propostas de remodelação.
Nos primeiros anos o recinto designou-se por Avenida Parque, mas o nome antigo acabaria por impor-se correntemente. Com o tempo transformar-se-ia num moderno e popular recinto de diversões ao ar livre, pretendendo emular o que se fazia em Paris (Luna-Park, Magic-City), Madrid (Retiro), Barcelona (Grande Parque), Sevilha, etc.

1-Humbert Madeira, Eugénio Salvador e Raul Solnado                       2-Raul Solnado                              3-Vasco Santana e Mirita Casimiro

O então Avenida Parque, hoje Parque Mayer, conseguiu impor-se não só como espaço de diversão mas também de convívio– este derivado da profusão de estabelecimentos para todos os gostos que o marcariam desde o início, desde cafés, retiros, tasquinhas, casas de pasto e de fados, restaurantes, bares, dancings,cabarets, etc.. Tal combinação concederia a este espaço uma redobrada capacidade de atracção. 
Além disso, demonstrou um grande dinamismo inicial, ao diversificar e renovar o tipo de espectáculos oferecidos. Por lá passou o jazz, com astroupes e as jazz-bands. Por lá ecoou a música ligeira, por iniciativa dos seus restaurantes e cabarets e dancings
Por lá se cantou o fado, no retiro de e com Armandinho e Georgino de Sousa, acompanhando à guitarra e viola (respectivamente) o «fabuloso» Alfredo Marceneiro e revelando Maria Emília Alta, além de Joaquim Campos e Júlio Proença (ambos no Colete Encarnado) e Mariema (no Dominó). Nele granjeou grande popularidade a actuação regular da fadista Hermínia Silva na revista (tendo cantado ainda na Esplanada Egípcia e no Valente das Farturas). Também Amália Rodrigues aí conheceu o maestro Frederico Valério, na revista «Essa é que é essa» (Teatro Maria Vitória, 1942), o qual lhe escreveria o «Fado do ciúme» e «Sabe-se lá», marcando-lhe assim a carreira. 
Por lá se vibrou com noites de samba, no restaurante-bar Dominó (de Maria Luísa Barbosa e do músico brasileiro Nestor Campos), onde Nicolau Breyner cantou «Como é bom amar em Itapoan» e Raul Solnado contou anedotas. 
Lá foram inventadas as «marchas populares», uma década após a sua abertura, segundo uma ideia de Leitão de Barros para animar o recinto e que tiveram um êxito fulgurante, tendo sido repetidas uma quinzena depois. 


1-Teatro Variedades                                    2-Cine-Teatro Capitólio                                   3-Teatro Maria Vitória
Lá foi recriado o antigo carnaval luso, com «danças de luta» e «cegadas» (cf.O Notícias Ilustrado, 19/3/1933, p. 9). Por fim, e acima de tudo, por lá passou e continua a passar o teatro, a grande singularidade do Parque Mayer relativamente às «feiras populares» convencionais. Assim, uma quinzena após a abertura ao público do Parque Mayer, foi inaugurado o Teatro Maria Vitória, com a revista «Lua nova». Consumido por um incêndio em 10/5/1986, seria reconstruído, tendo reaberto com uma nova revista a 2/2/1990. 
Seguiu-se-lhe o Teatro Variedades, estreado com a revista «Pó de arroz», em 8/7/1926. Este fora idealizado por Galhardo já em 1922 e começou a ser construído em 1924, com risco de Urbano de Castro, sob o antigo lago dos Jardins Mayer. 
Pouco depois, foi a vez do Capitólio, inaugurado em 31/7/1931, da autoria do arquitecto Luís Cristino da Silva, o mesmo que desenharia o pórtico de entrada. Este recinto modernista, sucessor da Esplanada Egípcia e inicialmente utilizado como salão de música e «variedades», exibiu cinema e teatro, à maneira dos coevos «cine-teatros». Foi classificado como «imóvel de interesse público» pelo decreto-lei n.º 8/83 (de 24/1/1983).  Em 1937 surgiu o Teatro Recreio, com a revista «Faça sol». Esta casa de espetáculos, criada por Giuseppe Bastos e vizinha do restaurante Gato Preto, foi extinta em 1940, para dar lugar a um ringue de boxe. 

1- "Agarra, que é honesto!"                2-Projeto de remodelação do arquiteto Frank Gheri      3-Final de "Passa por mim no Rossio"
O Teatro ABC foi o último recinto a ser franqueado, em 1955, com a revista «Haja saúde». No seu terreno precedera-o uma série de restaurantes-bares e/ou casas de espetáculo: 
Alhambra, Galo de Ouro, Baía e Casablanca. Encerrou em 1995. 
Pontualmente, serviram de palco teatral o Pavilhão Variedades (revista «Amor perfeito», em 1924) e a Esplanada Egípcia (por exemplo com a revista «Off-side», em 1929) .

Passa por mim no Rossio



Nota: Parte da informação deste texto, foi baseada na informação colhida no texto da autoria do Dr. Daniel Melo, (historiador, investigador associado sénior do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa; daniel.melo@ics.ul.pt), foi originalmente publicado na revista História, Lisboa, História. 














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