A Revista é um género de teatro, de gosto marcadamente popular, que teve
alguma importância na história das artes cénicas, tanto no Brasil como em Portugal, que tinha como caracteres principais a
apresentação de números musicais, apelo à sensualidade e a comédia leve
com críticas sociais e políticas, e que teve seu auge em meados do século XX.
Em Portugal, em termos gerais, consta de
várias cenas de cariz cómico, satírico e
de crítica política e social, com números musicais. É caracterizada também por
um certo tom Kitsch - com bailarinos vestidos de forma mais ou menos
exuberante (plumas e lantejoulas), além da forma própria de declamação do
texto, algo estridente.
Algumas revistas marcaram épocas - no Estado Novo português, por exemplo, o espectáculo de revista conseguia passar mensagens mais ou menos revolucionárias e de crítica ao regime vigente. Estão nessa situação algumas revistas protagonizadas, por exemplo, por Raul Solnado, no Parque Mayer - a "catedral da revista à portuguesa".
Actualmente o Teatro de Revista subsiste
apenas no Parque Mayer, mais concretamente no Teatro Maria Vitória graças ao empresário Helder Freire
Costa - com 47 anos de carreira - que tudo tem feito para que este espaço
e tipo de teatro não desapareçam de vez. Este empresário tem lutado
afincadamente toda a sua vida para a preservação deste espaço e tem conseguido
a sua manutenção graças a essa luta.
Na atualidade, assistimos ainda a uma
tentiva de fazer reviver a revista pelo empresário Filipe La Féria. Grande
empreendedor e homem de realizações espetaculares, rapidamente conferiu o
"carisma" de espetáculo "musical" à tradicional Revista à
Portuguesa.
E nesta nova faceta da revista, tem
realizado musicais perfeitamente notáveis, dos quais se destacam o primeiro,
"Passa por mim no Rossio", no Teatro
de D. Maria II, e "Amália", vários anos em cartaz
no Teatro
Politeama.
1-Corinne Freire 2-Beatriz Costa 3-Hermínia Silva |
A suposta decadência não
evitou a gula disfarçada de propostas de remodelação urbanística, em crescendo
desde finais dos anos 60. Uma boa ocasião para revisitar este palco maior, os
seus fazedores, os seus espectáculos, o seu público, as propostas de
remodelação.
Nos primeiros anos o recinto designou-se
por Avenida Parque, mas o nome antigo acabaria por impor-se correntemente. Com
o tempo transformar-se-ia num moderno e popular recinto de diversões ao ar
livre, pretendendo emular o que se fazia em Paris (Luna-Park, Magic-City),
Madrid (Retiro), Barcelona (Grande Parque), Sevilha, etc.
1-Humbert Madeira, Eugénio Salvador e Raul Solnado 2-Raul Solnado 3-Vasco Santana e Mirita Casimiro |
Além disso, demonstrou um grande dinamismo
inicial, ao diversificar e renovar o tipo de espectáculos oferecidos. Por lá
passou o jazz, com astroupes e as jazz-bands.
Por lá ecoou a música ligeira, por iniciativa dos seus restaurantes e cabarets e dancings.
Por lá se cantou o fado, no retiro de e com Armandinho e Georgino de Sousa,
acompanhando à guitarra e viola (respectivamente) o «fabuloso» Alfredo
Marceneiro e revelando Maria Emília Alta, além de Joaquim Campos e Júlio
Proença (ambos no Colete Encarnado) e Mariema (no Dominó). Nele granjeou grande popularidade a
actuação regular da fadista Hermínia Silva na revista (tendo cantado ainda na
Esplanada Egípcia e no Valente das Farturas). Também Amália Rodrigues aí
conheceu o maestro Frederico Valério, na revista «Essa é que é essa» (Teatro
Maria Vitória, 1942), o qual lhe escreveria o «Fado do ciúme» e «Sabe-se lá»,
marcando-lhe assim a carreira.
Por lá se vibrou com noites de samba, no
restaurante-bar Dominó (de Maria Luísa Barbosa e do músico brasileiro Nestor
Campos), onde Nicolau Breyner cantou «Como é bom amar em Itapoan» e Raul
Solnado contou anedotas.
Lá foram inventadas as «marchas
populares», uma década após a sua abertura, segundo uma ideia de Leitão de
Barros para animar o recinto e que tiveram um êxito fulgurante, tendo sido
repetidas uma quinzena depois.
1-Teatro Variedades 2-Cine-Teatro Capitólio 3-Teatro Maria Vitória |
Seguiu-se-lhe o Teatro Variedades,
estreado com a revista «Pó de arroz», em 8/7/1926. Este fora idealizado por
Galhardo já em 1922 e começou a ser construído em 1924, com risco de Urbano de
Castro, sob o antigo lago dos Jardins Mayer.
Pouco depois, foi a vez do Capitólio,
inaugurado em 31/7/1931, da autoria do arquitecto Luís Cristino da Silva, o
mesmo que desenharia o pórtico de entrada. Este recinto modernista, sucessor da
Esplanada Egípcia e inicialmente utilizado como salão de música e «variedades»,
exibiu cinema e teatro, à maneira dos coevos «cine-teatros». Foi classificado
como «imóvel de interesse público» pelo decreto-lei n.º 8/83 (de
24/1/1983). Em 1937 surgiu o Teatro Recreio, com a
revista «Faça sol». Esta casa de espetáculos, criada por Giuseppe Bastos e
vizinha do restaurante Gato Preto, foi extinta em 1940, para dar lugar a um
ringue de boxe.
Alhambra, Galo de Ouro,
Baía e Casablanca. Encerrou em 1995.
Pontualmente, serviram de palco teatral o Pavilhão Variedades (revista «Amor perfeito», em 1924) e a Esplanada Egípcia (por exemplo com a revista «Off-side», em 1929) .
Pontualmente, serviram de palco teatral o Pavilhão Variedades (revista «Amor perfeito», em 1924) e a Esplanada Egípcia (por exemplo com a revista «Off-side», em 1929) .
Passa por mim no Rossio |
Nota: Parte da informação deste
texto, foi baseada na informação colhida no texto da autoria do Dr. Daniel
Melo, (historiador, investigador associado sénior do Instituto de Ciências
Sociais da Universidade de Lisboa; daniel.melo@ics.ul.pt), foi originalmente publicado na
revista História, Lisboa, História.
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