AI,
SE SÊSSE!
Se
um dia nós se gostasse;
Se
um dia nós se queresse;
Se
nós dos se impariásse,
Se
juntinho nós dois vivesse!
Se
juntinho nós dois morasse
Se
juntinho nós dois drumisse;
Se
juntinho nós dois morresse!
Se
pro céu nós assubisse?
Mas
porém, se acontecesse
qui
São Pêdo não abrisse
as
portas do céu e fosse,
te
dizê quarqué toulíce?
E
se eu me arriminasse
e
tu cum insistisse,
prá
qui eu me arrezorvesse
e
a minha faca puxasse,
e
o buxo do céu furasse?...
Tarvez
qui nós dois ficasse
tarvez
qui nós dois caísse
e
o céu furado arriasse
e
as virge tôdas fugisse!!!
ZÉ
DA LUZ
Imagem de José Borges
O poeta Zé da Luz nasceu em Itabaiana, em 1904. Foi
alfaiate de profissão e poeta de maldição, ou benção, ou as duas coisas
simultaneamente, porque num existe maldição que não seja também invocação de um
santo, benção de língua profética.
Poeta popular, publicava os seus escritos em folhetos de
cordel.
Zé, ao escrever sobre o amor em "Ai, se sêsse", mais do
que transgredir deliberadamente a língua portuguesa formal, conseguiu dar-lhe
um novo significado, com a sua musicalidade.
O sotaque nordestino reforça a visão magnífica do amante
apaixonado, empunhador de peixeira (a sua faca de ofício), que fura o estômago
do céu para deixar correr as estrelas e as virgens que lá viviam...
Morreu no Rio de Janeiro, em 1965, desconhecido para
muitos, felizmente não para nós…
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