sexta-feira, outubro 16, 2015

PELA NOITE, COM ADELAIDE MONTEIRO: " EU QUE SOU MULHER"




EU QUE SOU MULHER


Fui feita por acaso
Sobrevivi por acaso
Nasci de um rompante rude e destemido
Rasguei as entranhas aos montes onde mamei pão amargo
Atravessei rios com os pés descalços e saí em gelados gemidos
Fui castrada por uma sociedade insana e cortei as amarras
Reconstitui-me, juntei as peças roubadas
E … aqui estou eu!…
Eu que sou mulher de tudo e de nadas!…
Vivo neste Cosmos estirada por forças opostas
Que me distendem os tendões e músculos
Uma parte de mim é Terra, regida por Marte que me prende ao chão
Outra parte é Vénus e Lua que me desprende, liberta e me lança em sonhos
E… aqui estou eu!…
Eu que sou mulher de tudo e de nadas!…
Com dedos de pincéis e teclas
Corto as amarras do chão
Liberto os meus pés sangrentos
E sou mulher, sou sonho e criança
Elevo-me a levitar
Abraço Vénus e a Lua
Deixo Marte a descansar
Nas estrelas escrevo poemas
E nas nuvens pinto o mar
E… aqui estou eu!…
Eu que sou mulher de tudo e de nadas!…


ADELAIDE MONTEIRO


Adelaide Monteiro é poeta portuguesa e nasceu a 16 de Maio de 1949, em Especiosa - Miranda do Douro. . A sua primeira língua é o mirandês, por isso escreve e mantém vivo o idioma da sua aldeia, Especiosa.
 Professora aposentada do Ensino Secundário e artista plástica, participou nas antologias: Antre Monas i Sbolácios (2010); A Terra de Duas Línguas: Antologia de Autores Transmontanos (2011); A Terra de Duas Línguas II: Antologia de Autores Transmontanos (2013).




Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...