EU QUE SOU MULHER
Fui feita por acaso
Sobrevivi por acaso
Nasci de um rompante rude e destemido
Rasguei as entranhas aos montes onde
mamei pão amargo
Atravessei rios com os pés descalços e
saí em gelados gemidos
Fui castrada por uma sociedade insana e
cortei as amarras
Reconstitui-me, juntei as peças roubadas
E … aqui estou eu!…
Eu que sou mulher de tudo e de nadas!…
Vivo neste Cosmos estirada por forças
opostas
Que me distendem os tendões e músculos
Uma parte de mim é Terra, regida por
Marte que me prende ao chão
Outra parte é Vénus e Lua que me
desprende, liberta e me lança em sonhos
E… aqui estou eu!…
Eu que sou mulher de tudo e de nadas!…
Com dedos de pincéis e teclas
Corto as amarras do chão
Liberto os meus pés sangrentos
E sou mulher, sou sonho e criança
Elevo-me a levitar
Abraço Vénus e a Lua
Deixo Marte a descansar
Nas estrelas escrevo poemas
E nas nuvens pinto o mar
E… aqui estou eu!…
Eu que sou mulher de tudo e de nadas!…
ADELAIDE MONTEIRO
Adelaide Monteiro é poeta portuguesa e nasceu a 16 de Maio de 1949, em
Especiosa - Miranda do Douro. . A sua primeira língua é o mirandês, por isso
escreve e mantém vivo o idioma da sua aldeia, Especiosa.
Professora aposentada do Ensino
Secundário e artista plástica, participou nas antologias: Antre Monas i
Sbolácios (2010); A Terra de Duas Línguas: Antologia de Autores Transmontanos
(2011); A Terra de Duas Línguas II: Antologia de Autores Transmontanos (2013).
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