INANIA
VERBA
Ah!
quem há-de exprimir, alma impotente e escrava,
O
que a boca não diz, o que a mão não escreve?
—
Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve,
Olhas,
desfeito em lodo, o que te deslumbrava…
O
Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A
Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve…
E
a Palavra pesada abafa a Idéia leve,
Que,
perfume e clarão, refulgia e voava.
Quem
o molde achará para a expressão de tudo?
Ai!
quem há-de dizer as ânsias infinitas
Do
sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?
E
a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E
as palavras de fé que nunca foram ditas?
E
as confissões de amor que morrem na garganta?
OLAVO
BILAC,
In
Poesias
2 comentários:
Expressou tudo, mesmo com as palavras presas na garganta...
Fantástico!
Um grande poeta um grande poema, de facto. Obrigada.
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