Sacerdote de corpo inteiro, ao serviço de Deus, da Igreja e dos perseguidos.
Foi apóstolo do bem, na guerra e na paz.
Em plena Segunda Guerra Mundial, Monsenhor Joaquim Carreira era Reitor do Pontifício Colégio Português em Roma. Foi lá que acolheu centenas de Judeus e Cristãos fugidos do regime Nazi. Passados 60 anos, a Diocese de Leiria teve oportunidade e decidiu homenagear este sacerdote da terra, numa cerimónia de transladação dos seus restos mortais para um lugar de destaque no cemitério dos Soutos da Caranguejeira, sua terra natal.
Enquanto alguns se aproveitam dos seus cargos para servirem os seus próprios interesses, este sacerdote fez da sua condição de Reitor do Colégio Português um meio para abrigar quem estava a precisar, mesmo que, para tal, Monsenhor Joaquim Carreira tivesse "corrido" enormes riscos.
Sobre este comportamento, há múltiplas cartas que o testemunham. Um dos refugiados, ex-coronel de infantaria, que classifica o Colégio Português como "o coração português na Itália", escreve:
"Eramos 42...e 42 párias da sociedade no período compreendido entre setembro de 1943 e junho de 1944...Estudantes universitários cheios de esperança e de ideal por uma nova Itália democrática. Soldados que cumpriam o seu dever e não podiam juntar-se à própria família. Homens políticos de pequena e grande nomeada que aguardavam o seu turno de serviço. Hebreus torturados por causa das leis raciais e das riquezas escondidas que podiam tornar-se presa fácil para os Alemães e Fascistas. Eramos uma pequena multidão de ambiciosos, inquietos e apaixonados, de idealistas que passaram nove meses protegidos pelo Colégio Pontifício Português. As nossas ânsias, eram as ânsias do diligente e zeloso Reitor Monsenhor Carreira".
Um outro, ressalta como todos os refugiados puderam "experimentar a bondade e altruísmo do Reitor, que, com verdadeira caridade cristã e nobre generosidade, desafiou as ferozes leis da guerra alemãs e fascistas, para ajudar aqueles que, como nós, se encontravam e expostos ao perigo".
O lançamento da sua biografia e uma sessão sobre o seu acolhimento a judeus e outros perseguidos em Roma, durante os anos de 1943 e 1944, assinalaram a celebração do centenário do nascimento de Monsenhor Joaquim Carreira.
Trata-se de um livro volumoso com fotografias e documentos que nos permitem conhecer a grandeza da vida e da ação deste sacerdote natural da Caranguejeira, agora comparado com o cônsul de Bordéus Aristides de Sousa Mendes, pela suas condutas tão similares. Biografia compilada pelo seu sobrinho, o padre Joaquim Carreira das Neves testemunhou o seu convívio com Monsenhor Carreira e toda a sua tentativa feita para ouvir do próprio tio o relato da obra que realizou. Ao que Monsenhor Carreira lhe respondeu: "Essas coisas não se dizem, fazem-se".
Num período em que a Igreja Católica foi fortemente criticada pela nebulosidade do seu comportamento, durante a Segunda Guerra Mundial e em pleno pontificado do Papa Pio XII, Eugenio Pacelli, os arquivos do Vaticano, senhores da informação mais secreta, fecharam-se por completo a qualquer tipo de informação. A investigação deste período ainda hoje surge envolta no mistério deste secretismo. Não foi fácil a recolha de toda a informação e testemunhos comprovativos que permitiram esta biografia.
Monsenhor Joaquim Carreira foi o primeiro padre português com carta de aviador.
Foi também o primeiro a criar uma rádio local. Este sacerdote da diocese de Leiria-Fátima nasceu na freguesia da Caranguejeira e voltou à Cidade Eterna, onde viveu grande parte da sua vida, como Reitor do Colégio Português e consultor eclesiástico na Embaixada de Portugal junto da Santa Sé.
Faleceu em 1981, na capital italiana. Os seus restos mortais repousam no cemitério dos Soutos, Caranguejeira.
O seu amor a Nossa Senhora, por quem se confessava "doido", levou-o a pedir-lhe que o levasse num dia de festividade sua. E ela fez-lhe a vontade...
Tropas nazis da Segunda Guerra Mundial |
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