"UM MÉTODO PERIGOSO" - Um Filme Que Faz Pensar...

Na  mensagem anterior mencionei a estreia de um segundo filme que igualmente aborda o tema da ciência e dos fenómenos paranormais. Ele aí está nas nossas salas, também desde o dia 26 deste mês: "Um Método Perigoso". Disposto e com pretensões a ser um dos filmes do ano. "Um Método Perigoso" já este ano concorreu ao Leão de Ouro de Veneza.

Dirigido por David Cronenberg ("Senhores do Crime"), acompanha um episódio pouco conhecido da relação entre Sigmund Freud (Vigo Mortensen) e Cal Jung (Michael Fassbender). Partindo da peça "Talking Cure", de Christopher Hampton - dramaturgo e argumentista inglês nascido nos Açores- inspirada na obra de John Kerr, realizou uma ficção densa que focaliza o encontro entre o pai da psicanálise e um dos seus mais criativos discípulos, antes de diferenças inconciliáveis os separarem


Tornam-se claros alguns dos principais conflitos entre o pensamento dos dois, desde o papel supremo defendido por Freud para a sexualidade, como determinante do comportamento humano - que Jung contrapõe com uma procura também do transcendente, que o levará ao conceito do inconsciente coletivo.

Um "Método Perigoso" sinaliza ainda um retrato preciso da época. Numa Europa sacudida por vanguardas artísticas e que se acreditava muito civilizada quando, na realidade, caminhava para o massacre da Primeira Guerra Mundial, torna-se difícil retirar a Freud o acerto na opinião de que a racionalidade não poderia ser a solução para todos os problemas no seio da civilização.


Em 1907, Sigmund Freud e Carl Jung iniciam  uma parceria que iria mudar o rumo das ciências da mente assim como as suas próprias vidas. Seis anos depois, tudo isso se altera e eles tornam-se antagónicos, tanto no que diz respeito às suas considerações científicas, como no que se refere às questões de foro íntimo. Entre os dois, para além das divergências de pensamento, surge Sabina Spielrein (Keira Knightley), uma jovem russa de dezoito anos internada no Hospital Psiquiátrico de Burgholzli, com uma história de família complicada e comportamento autodestrutivo.

Com diagnóstico de psicose histérica e tratada através dos recente métodos psicanalíticos, ela torna-se paciente e amante de Jung e mais tarde, em colega e confidente de Freud. Isto antes de se tornar numa psicanalista de renome.


Trabalhando pela terceira vez com Cronenberg, o ator norte-americano Viggo Mortensen encarna Freud, o pioneiro da psicanálise que em Viena influenciou diversos profissionais, inclusive Jung. O jovem médico suíço encontra-se com o seu mentor, quarenta anos mais velho, e inicia-se uma intensa troca de correspondência e experiências.

Aos poucos, afirmam-se as diferenças entre os dois - idade, classe social, religião (Freud era judeu, Jung, protestante) e personalidade. E, a partir de certo momento, divergem especialmente na sua postura profissional perante aspetos cruciais na determinação da mente humana - como a sexualidade.

A sexualidade, não na teoria, mas sim na prática, origina uma das muitas discordâncias entre Jung e Freud, a partir do momento em que o primeiro, casado e com filhos, se envolve com a sua ex-paciente, Sabina, que também se tornou psicanalista. E, na vida íntima, mais do que atenuar algumas perversões de Sabina, passa também a partilhá-las.

Um grande mérito deste filme está em não sucumbir ao habitual peso das produções de época - que Cronenberg experimenta pela quarta vez -, permitindo que os seus personagens se movimentem e reajam de forma natural nos seus ambientes.


A não perder, é sem dúvida, um filme que faz pensar...

Título original: "A Dangerous Methode"

Elenco: Viggo Mortensen, Keira Knightley, Michael Fassbender, Vincent Cassel, Sarah Gadon, André Hennicke, Arndt Schwering-Sohnrey, Mignon Remé, Mareike Carrière, Franziska Arndt, Wladimir Matuchin, André Dietz

Direção: David Cronenberg

Género: Drama

Duração: 111 minutos

Orçamento. US$ 22 milhões

Origem: Estados Unidos da América