Porque se aproxima o dia da atribuição dos Prémios "Óscar" de Hollywood e porque este filme chamou particularmente a minha atenção, uma vez que aborda um tema para mim muito querido, a dança, achei que valia a pena dedicar-lhe algumas palavras. Além disso apresenta-se como candidato de peso aos Óscares, com 5 nomeações, tendo já obtido quatro nomeações nos Globos de Ouro.
Na maioria das vezes, o cinema de Hollywood reserva um lugar fantasioso para o mundo da dança. A graça e elegância dos movimentos aparecem em primeiro plano, os bailarinos deslizam pelo palco e desafiam a gravidade como se estivessem a atravessar uma rua. O "Cisne Negro" tem o mérito de lançar luz sobre os bastidores desta arte, mas surpreende muito mais. Este filme, realizado por Darren Aronofsky, transforma a beleza, numa história de horror psicológico não menos espectacular.
Natalie Portman interpreta Nina, dedicada integrante de uma grande companhia de ballet de Nova York, que vê brilhar a oportunidade da sua vida numa nova adaptação do espectáculo "Lago dos Cisnes". O director artístico Thomas (Vincent Cassel) aposenta a então estrela do grupo, Beth (Winona Ryder), e escolhe, um pouco desconfiado, Nina como protagonista. Ele considera a bailarina perfeita para o papel do Cisne Branco, delicado e virginal, mas ainda assim duvida que ela consiga encarnar o Cisne Negro, a sua gémea sensual e traiçoeira.
Perturbada pela pressão e assédio de Thomas, Nina ainda é sufocada pela mãe, ex-bailarina que mantém a filha num ambiente infantil e opressor, e pela chegada de uma bailarina nova, Lily, uma ameaça para o seu papel. Nina é técnica e frígida, enquanto Lily, oriunda da ensolarada Califórnia, exala paixão, sexo e liberdade. Nina luta para soltar as suas amarras, mas as tentativas desmoronam-se: começa a ter visões, a ouvir sons estranhos, tem a sensação de que está a ser seguida e apercebe-se de transformações no corpo. Perde o sentido da realidade e o suspense latente instala-se de vez.
Aronofsky nunca filmou tão bem. O "Cisne Negro" é sobretudo climático, e de forma exemplar. A narrativa instala o medo e a confusão mental de suspenses, na medida em que não se sabe mais o que é real e fantasia, onde os espelhos têm um lugar importante. Além da fotografia lúgubre, a banda sonora e a excelente qualidade do som dão o toque final: ouvem-se todas as nuances, do rangido das sapatilhas no palco aos sussurros saindo por detrás das paredes.
O contraponto com a disputa entre Nina e Lily, interioriza a trama do "Lago dos Cisnes", que acompanhada pela já conhecida tragicidade do conto de fadas aqui explorada ao máximo, potencializa a tensão e torna o "Cisne Negro" ímpar. O sucesso, porém, não teria sido completo se este filme não contasse com um elenco muito acima da média. Mila Kunis, no papel de Lily, tem uma presença magnética no écran, no melhor papel da sua carreira.
Natalie Portman consegue superar, com a sua dedicação assustadora, para com as filmagens. Bailarina dos quatro aos doze anos, retomou um treino intensivo de dez horas diárias, durante quase um ano, e que a levou a afirmar: "sapatilhas de pontas são instrumentos de tortura". Esforço que lhe valeu uma interpretação profissional e esplendorosa da metamorfose psicológica do Cisne Negro.
Todavia não se prevê, para o "Cisne Negro", que concorre lado a lado com a "Rede Social " e " Discurso do Rei" como melhor filme do ano, a distinção, uma vez que mostra o lado sinistro, violência, lesbianismo e sexo, longe da edificação do favorito "Discurso do Rei".
3 comentários:
Fiquei bem interessada para assistir!
Um abraço.
Outro para si, também estou ansiosa pela visualização completa deste filme, que promete!...Obrigada.
um filme violente ,muito bem feito,interpretado e que nos faz pensar no puder da nossa mente...
Nao percam.....
Ela que ganhe o oscar...merece
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