UM
DIA A SOLIDÃO
Um
dia, a solidão
-
que dor de vergonha! -
levou-me
pela mão
para
seu baluarte
e
disse-me " sonha!
O
sonho é a tua lei"
E
eu para ali fiquei,
Tão
farto de ser eu,
A
ouvir o meu coração
Bater
em toda a parte,
Nos
astros do chão,
Nas
pedras do céu.
E
eu para ali fiquei
A
arrancar a carne das unhas,
Sozinho
no meu jardim,
A
viver sem testemunhas
No
espelho de mim.
E
eu para ali fiquei
Com
o mundo a obedecer aos meus caprichos:
A
luz, as flores, os bichos
E
o sol enforcado na floresta,
Na
alucinação
Duma
corda de lava
A
baloiçar ao vento da minha alma à solta…
E
eu para ali fiquei
-
pobre de mim que ignorava
a
dor da verdadeira solidão
que
é esta! Que é esta!…
Muita
gente à minha volta
E
eu aos tombos pelas ruas,
longe
de todos e de mim,
a
morrer pelos outros
em
barricadas de estrelas e de luas.
JOSE
GOMES FERREIRA
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