Madre Teresa de Calcutá é uma imagem que ficará para sempre na nossa memória.
Teresa, de nome Agnes Gonxha Bojaxhiu, uma mulher baixa, vestida de sari branco
com riscas azuis, olhar penetrante, a percorrer as ruas de Calcutá, a ajudar os
pobres, leprosos, crianças, os mais necessitados. Esta freira foi a imagem viva
do amor a Deus e aos outros.
Segundo uns, terá nascido em 19 de Agosto de 1910, em
Skopie, cidade dos Balcãs, hoje capital da Macedónia, quando a região ainda
fazia parte do Império Otomano. No entanto, segundo a própria Teresa, nasce a
27, porque foi essa a data do seu batismo e aquela que, do seu ponto de vista,
verdadeiramente contava. Filha mais nova de Nicolai Bojaxhiu, empresário, e de
Dranafile Bernai, tinha origem veneziana.
Vivida numa casa espaçosa e confortável, a sua meninice
foi muito marcada pela religião, cujas bases recebeu da mãe e também dos
Jesuítas do Sagrado Coração, que viviam na sua paróquia. Aos oito anos ficou
órfã de pai e viveu a dolorosa experiência das dificuldades económicas, que
haveriam de marcar a sua vida futura. Passa então, com sua mãe, muitas horas em
oração e faz da biblioteca paroquial, o seu refúgio. É nesta altura que
desenvolve o gosto pela leitura.
Aos doze anos sentiu o seu primeiro chamamento divino.
Foi nessa altura que percebeu que queria ser missionária para poder espalhar a
palavra de Cristo. Mas teve de esperar seis anos para poder dar forma a esse
apelo de Deus, período de meditação aconselhado por um padre jesuíta da sua
paróquia. Aos dezoito anos abandonou a casa materna, convicta, sem dúvidas do
que iria ser o seu destino - o de que Deus a tinha escolhido para uma missão.
É assim que, a 26 de Setembro de 1926, na estação de
caminhos de ferro que a levará a Zagreb, viu sua mãe pela última vez, quando da
sua partida para o convento em Dublin. Daqui, passados dois intensos meses de
prática do inglês, partiu rumo à Índia, para o convento de Nossa Senhora do
Loreto, a norte de Calcutá. É aqui que inicia o seu noviciado, no ano de 1929.
Dois anos mais tarde pronuncia os seus primeiros votos de pobreza , obediência
e castidade, tomando o nome de Maria Teresa, numa clara homenagem a Santa
Teresa de Lisieux, padroeira das missionárias.
Apesar de isolada no convento, Teresa preocupou-se com os
acontecimentos que agitavam o mundo, nomeadamente a entrada do Japão na Segunda
Guerra Mundial. Com a ocupação da vizinha Birmânia, a pressão sobre Calcutá não
tardou e o consequente bombardeamento desta cidade teve lugar, em plena crise
da fome de 1942-1943. O afluxo das famílias empobrecidas em Calcutá foi enorme,
velhos, jovens e crianças viviam estendidos nas ruas sem terem onde se abrigar,
numa miséria absoluta. Impressionada com tudo isto, Teresa fez a profissão
perpétua a 24 de Maio de1937.
Em 1946, com a partida do colégio e a aquisição rápida de
um curso de enfermagem, decidiu reformular a sua trajectória de vida. Dois anos
depois e após muita insistência, o Papa Pio XII permitiu que abandonasse as
suas funções enquanto monja, para iniciar uma nova congregação de caridade, com
o objectivo de ensinar as crianças pobres a ler. Assim nasceu a sua Ordem - As
Missionárias da Caridade. Como hábito, escolheu o sári, nas cores branco, por
significar pureza, e azul, por ser a cor da Virgem Maria. Como princípios adoptou o abandono de todos os bens
materiais. O espólio de cada irmã resumia-se a um prato de esmalte, um jogo de
roupa interior, um par de sandálias, um pedaço de sabão, uma almofada e um
colchão, um par de lençóis e um balde metálico com o respectivo número.
Começou a sua actividade reunindo algumas crianças, a
quem começou a ensinar o alfabeto e as regras da higiene. A sua tarefa diária
centrava-se na angariação de donativos e na difusão da palavra de alento e de
confiança em Deus.
Em Dezembro de 1948 foi-lhe concedida a nacionalidade
indiana e dois anos depois empenhou-se em assistir os doentes com lepra. Em
1965 o Papa Paulo VI colocou sob o controle do papado a sua congregação e deu
ordem para a sua expansão a outros países. Centros de apoio a leprosos, velhos,
cegos e doentes com HIV surgiram em várias cidades do mundo, bem como escolas,
orfanatos e trabalhos de reabilitação de presidiários.
O reconhecimento do mundo pelo seu trabalho
concretizou-se com o Templeton Prize, em 1973 e com o Nobel da Paz, no dia 17
de Outubro de 1970. No discurso de aceitação deste prémio, esta mulher de
aspecto humilde, com mãos de dedos retorcidos e pés deformados calçados com
sandálias grosseiras, disse: " Acho que na nossa família não precisamos de
bombas e armas para destruir e trazer a paz, basta juntarmo-nos, amarmo-nos uns
aos outros, conseguir essa paz, essa alegria, essa força de presença uns dos
outros em casa. E vamos ser capazes de ultrapassar todo o mal que há no
mundo".
Madre Teresa conseguiu convencer o Comité Nobel a
prescindir do banquete de celebração, e a oferecer o dinheiro àqueles que
tinham verdadeiramente fome. O gesto teve repercussões mundiais, com adultos e
crianças da Noruega, Suécia e outros países europeus a oferecerem-lhe o
dinheiro do seu bolso. Assim, Madre Teresa conseguiu reunir, para os seus
carenciados, um donativo de cerca de 430 mil euros...
Madre Teresa lidou com toda a espécie de realidades. Uma
das mais frequentes era o aborto. A monja
era uma acérrima opositora da interrupção da gravidez. Condenou-a
fortemente em diversas ocasiões, sobretudo nos EUA e na Europa. No discurso de
aceitação do Nobel, em Oslo, disse mesmo que "o grande destruidor da paz
não era a guerra, mas o aborto".
Morreu em 1967, aos 87 anos, de ataque cardíaco, quando
preparava um serviço religioso em memória da Princesa Diana de Gales, sua
grande amiga e falecida ela própria 6 dias antes, num acidente de automóvel em
Paris. Tratado como um funeral de Estado, vários foram os representantes do
mundo que quiseram estar presentes para prestar a sua última homenagem. As
televisões do mundo inteiro transmitiram ao vivo durante uma semana, os milhões
que queriam vê-la no estádio Netadji.
O seu trabalho missionário continua através da irmã
Nirmala, eleita no dia 13 de Março de 1997 como sua sucessora. Madre Teresa foi
beatificada em 19 de Outubro de 2003, atingindo assim o terceiro degrau, dos
quatro que levam à santificação. A sua beatificação deve-se à ocorrência de um
milagre ocorrido com Monica Besra, uma indiana que foi curada de um tumor no
estômago de forma inexplicável e cuja cura foi atribuída a Madre Teresa.
Segue-se o processo de canonização. Pela primeira vez na história da Igreja o
Papa João Paulo II concedeu uma dispensa especial e, dois anos decorridos após
a sua morte, a Igreja deu início ao seu processo de beatificação, sem esperar
pelo prazo de cinco anos, que a lei canónica impõe.
Madre Teresa, nas suas cartas dirigidas a alguns
conselheiros espirituais e compiladas no livro "Madre Teresa venha, seja
minha luz", publicado em Setembro de 2007, descreveu como sentia falta de
respostas de Deus.
Nelas afirmou chegar a amar a escuridão e a dor de Jesus
neste mundo: "Hoje senti uma grande alegria - que Jesus já não
pode passar pela agonia - mas que quer passar"
O Papa Francisco declarou santa a madre Teresa de
Calcutá, durante a missa de canonização celebrada na praça de São Pedro, no
Vaticano, no passado dia 4 de setembro.
Frente a 100 mil fiéis, Jorge Mario
Bergoglio pronunciou em latim a fórmula pela qual fica inscrito o nome da
religiosa nos Livro dos Santos. Além das delegações oficiais de várias partes o
mundo, o Papa quis prestar uma homenagem à nova santa reservando um lugar
especial na praça para 1.500 pessoas sem abrigo. Chegaram em autocarros de
diversas cidades da Itália e foram convidadas a comer uma pizza após o evento.
Durante a homilia, Francisco disse: "Madre Teresa fez ouvir a sua voz
diante dos poderosos da terra para que reconhecessem a sua culpa diante dos
crimes da pobreza criada por eles mesmos”.
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