FANNY
fanny,
a grande
amiga
de minha mãe,
ossuda,
esgalgada,
de
cabelo escuro e curto,
e
filha de uma inglesa,
tinha
um sentido prático
extraordinário
e era
muito
emancipada, para
os
costumes da foz
daquele
tempo.
uma
vez, estando
sozinha
no cinema, sentiu
a
mão do homem a
seu
lado deslizar-lhe
pela
coxa. prestou-se a isso e
deixou-a
estar assim,
com
toda a placidez. mas abriu
discretamente
a carteira de pelica,
tirou
a tesourinha das unhas
e
quando a mão no escuro
se
imobilizou mais tépida,
apunhalou-a
num gesto
seco,
enérgico, cirúrgico.
o
homem deu um salto
por
sobre os assentos e
fugiu
num súbito
relincho
da
mão
furada.
fanny
foi sempre
de
um grande despacho,
na
sua solidão muito
ocupada
num escritório. um dia
atirou-se
da janela
do
quinto andar
e
pronto.
VASCO
GRAÇA MOURA
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