quinta-feira, fevereiro 18, 2016

UM ENCONTRO HISTÓRICO







O Papa Francisco, chefe da Igreja Católica Romana, reuniu-se sexta-feira passada com o patriarca da Igreja Ortodoxa Russa Kirill (Cirilo). Oraram e pediram a união dos dois dos principais ramos do cristianismo desde sua separação, no ano de 1054.

Numa declaração conjunta, também clamaram por proteção para os cristãos no Médio Oriente, num encontro que durou duas horas e ocorreu numa sala do aeroporto de Havana, em Cuba.

Os líderes religiosos abraçaram-se e beijaram-se:
"Estou feliz por te cumprimentar, querido irmão", disse Kirill.
"Finalmente", respondeu o Papa Francisco.

Depois, numa entrevista concedida após o encontro, o patriarca Kirill declarou que as discussões estão abertas de forma "fraterna" e conjuntamente com o Papa Francisco, ambos acrescentaram:
"A nossa negociação é sincera. Desejamos que o nosso encontro contribua para o restabelecimento dessa unidade desejada por Deus".

O interesse do Papa Francisco no encontro era conhecido desde novembro de 2014, quando, regressado de uma viagem a Istambul, revelou que tinha falado com o patriarca Kirill pelo telefone e lhe tinha dito: "Irei onde você quiser. Chame-me, que eu vou."

Francisco não quer que autoridade papal ponha em causa a reunificação da Igreja, e o porta-voz do patriarcado da Igreja Ortodoxa Russa de Moscovo, Vakhtang Kipshidze, afirmou que a ilha é "território neutro": "Cuba é ideal porque é um país principalmente católico que tem uma comunidade minoritária ortodoxa em Havana. É um lugar hospitaleiro para todos. Pelo contrário, a Europa está ligada a experiências negativas e dramáticas para ambas as comunidades religiosas", manifestou em declaração à comunicação social.

Essa opinião é compartilhada pelo porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, que afirma que tudo será  mais fácil com a ocorrência do encontro fora da Europa: "No passado, esse encontro foi tentado, sem sucesso. No tempo de João Paulo II e do patriarca Alexis II, locais diferentes foram apontados numa Europa que é um continente muito complexo e com grande densidade histórica", afirmou à BBC Mundo.

Afastamento e rivalidade
Nos últimos anos as tentativas de aproximar as duas Igrejas foram dificultados por desconfiança mútua.
Os ortodoxos ressentem-se, entre outras coisas, da suposta expansão do catolicismo em áreas que antes faziam parte da União Soviética.
Também se opõem ao papel que a Igreja Católica vem exercendo na Ucrânia, especialmente pelo que consideram posturas pró-ocidentais e antissoviéticas.

Qual a razão porque as Igrejas Católica e Ortodoxa estão afastadas há mil anos?
Em 1054, o papa de Roma e o patriarca de Constantinopla excomungaram-se mutuamente, dando início ao que se conhece como o grande cisma do cristianismo – que persiste até hoje.
Mesmo antes disso já perdurava um distanciamento cultural. Na Igreja do Ocidente  falava-se o latim, enquanto no Oriente bizantino prevalecia a cultura helenística grega. Além disso havia grandes diferenças doutrinárias, como sobre a natureza do Espírito Santo.
Outra diferença fundamental é o modo como as duas igrejas entendem a função de seu mandatário:

Na Igreja Católica o papa é a máxima figura de autoridade.  Calcula-se que a Igreja Católica tenha 1,2 bilião de fiéis.

A Igreja Ortodoxa está dividida em patriarcados entre os quais existe uma igualdade: o de Istambul, com 10 mil fiéis, tem certa preeminência, mas não possui jurisdição sobre toda a Igreja Ortodoxa. O de Moscovo tem influência sobre 200 milhões de fiéis.
Além disso, a Igreja Ortodoxa Russa sempre esteve vinculada com o poder, seja com o imperador, com o czar ou com o Partido Comunista. Atualmente, desde 2009, o patriarca Kirill mantém uma relação estreita com Vladimir Putin.

E a partir de agora?
A unidade do cristianismo não ocorrerá de um dia para o outro. Mas o encontro surge como uma tentativa de iniciar um processo que exigirá concessões de todas as partes.
Do ponto de vista católico, a aproximação é parte da agenda de reformas do Papa Francisco. Entre elas está não deixar que a primazia papal seja obstáculo para a unidade da Igreja.
Para a Igreja Ortodoxa o problema é inverso, devido à falta de uma liderança clara. Há 50 anos tenta-se convocar um sínodo, uma assembleia de bispos – mas não há uma autoridade central para o convocar.
Talvez o patriarca Kirill enfrente mais pressão interna do que o Papa Francisco: "As forças conservadoras em Moscovo não apreciam a reunificação com o Ocidente porque isso os enfraquece", segundo a opinião de teólogos da Universidade Católica da América, nos Estados Unidos.

Deus conceda ao Papa Francisco a longevidade e força necessárias para realizar todas as reformas que tão corajosamente se propõe levar a cabo e que o mundo tão ansiosamente aguarda.


Rezemos por ele, como ele sempre nos pede.





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