MAR.
MANHÃ
Suavemente
grande avança
Cheia
de sol a onda do mar;
Pausadamente
se balança,
E
desce como a descansar.
Tão
lenta e longa que parece
De
uma criança de Titã
O
glauco seio que adormece,
Arfando
à brisa da manhã.
Parece
ser um ente apenas
Este
correr da onda do mar
Como
uma cobra que em serenas
Dobras
se alongue a colear.
Unido
e vasto e interminável
No
são sossego azul do sol,
Arfa
com um mover-se estável
O
oceano ébrio de arrebol.
E
a minha sensação é nula,
Quer
de prazer, quer de pesar...
Ébria.
de alheia a mim ondula
Na
onda lúcida do mar.
FERNANDO
PESSOA
16-11-1909,
in
Cancioneiro
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