segunda-feira, novembro 07, 2011

O FADO - Candidatura a Património Imaterial Da Humanidade II (UNESCO)





Neste ano o fado vai ser apreciado na UNESCO, na qualidade de candidato ao Património Imaterial da Humanidade. Ruy Vieira Nery, ilustre musicólogo, liderou este ambicioso projeto, para o qual o fadista Carlos do Carmo foi nomeado embaixador.
Carlos do Carmo, Fadista e Embaixador da
Candidatura do Fado a Património
Imaterial da Humanidade

Em Setembro deveríamos ter tido conhecimento dos resultados destas meritórias diligências científicas e diplomáticas em prol da Cultura Portuguesa. Assim, e com a aproximação do final do ano que assinala também o final do prazo do concurso, aguardamos a todo o momento as notícias definitivas destes mesmos resultados da candidatura nacional. 

No tempo do Estado Novo, houve duas figuras que muito prestigiaram Portugal no exterior: Amália Rodrigues e Eusébio da Silva Ferreira. Nos nossos dias, com a Globalização, já muitos portugueses se destacam no estrangeiro, pelos seus relevantes contributos em várias áreas da Cultura, da Ciência, da Política, do Desporto,etc. Esperemos que este novo "sopro" de juventude, que igualmente se estende ao fado, conjuntamente com o já existente, possam contribuir para despertar o interesse das comunidades internacionais para esta candidatura, e assim recebermos, em breve, boas notícias... 

Por isso, falarei um pouco sobre a Canção Nacional,  Fado, apenas o suficiente para descobrir um pouco das suas origens e evolução ao longo dos anos na sociedade portuguesa, até à actualidade. Porque o que realmente interessa é ouvi-lo, para melhor o poder apreciar e entender...
Casa de Fado

A origem do seu nome, do conhecimento de todos nós, parece ser  a do étimo latino "fatum", ou seja, destino. A tradição popular aponta a origem do fado de Lisboa para o cântico dos Mouros, que permaneceram no bairro da Mouraria em Lisboa, após a reconquista Cristã. A dolência e a melancolia, características do fado, teriam sido herdadas daqueles cânticos. Outra teoria, sugere o despontar e a imensa popularidade nos séculos XVIII e XIX da Modinha e de outros géneros afins, como o Lundu, divulgados pelas diferentes culturas então presentes em Lisboa.

No entanto, o fado só começou a ser conhecido como tal, depois de 1840, nas ruas de Lisboa. O fado mais antigo é o "fado do marinheiro", e é este fado que se vai tornar o modelo de todos os outros géneros de fado que viriam a surgir, mais tarde, como o "fado corrido", e depois deste o "fado da cotovia". 

E é com este fado, que surgem os fadistas, com as suas vestes características e atitudes não convencionais, desafiadoras por vezes, e que originavam frequentes contendas com grupos rivais. Um fadista, ou "faia", de 1840, era conhecido pela sua maneira de trajar: "usava boné de oleado com tampa larga e pala de polimento, ou boné semelhante ao dos guardas municipais, com uma laçada de fita preta, de lado, e pala de polimento; jaqueta de ganga ou com alamares. O cabelo, cortado do meio da cabeça para trás, de modo a formar uma melena empastada caída sobre a testa".
Amália Rodrigues

A partir da primeira metade do século XX, o fado foi adquirindo grande riqueza melódica e complexidade rítmica, tornando-se mais literário e artístico. Os versos populares são substituídos por versos elaborados, e durante as décadas de 30 e 40, o cinema, o teatro e a rádio vão projetar esta canção para o grande público, tornando-o, de alguma forma, mais comercial.

Surge a figura do fadista como artista, trajando de negro, que saindo das vielas e recantos escondidos, passa para os palcos brilhantes do teatro, das luzes do cinema, para serem ouvidos na rádio ou em discos. É também nesta altura que surgem as Casa de Fados e com elas o lançamento do artista profissional. Eram ambientes de convívio, entre compositores, letristas e intérpretes.
Alfredo Marceneiro

O fadista canta o sofrimento, a saudade de tempos passados, a saudade de um amor perdido, a tragédia, a desgraça, a sina e o destino, a dor , o amor e o ciúme, sempre no silêncio da noite, envolto no mistério da penumbra. É assim, com "uma alma de quem sabe escutar", que se deve ouvir esta canção de alma portuguesa, que também canta a crítica e as misérias da vida e a própria cidade...Sempre acompanhada pela sonoridade de uma guitarra portuguesa.

Todavia o fado, como canção nacional, é hoje acompanhado por violino, violoncelo e orquestra, mas nunca dispensa a guitarra portuguesa, da qual há e houve excelentes intépretes como Armandinho, Jaime Santos e tantos outros. Também a viola é indispensável na música fadista, da qual restam incontornáveis nomes como Alfredo Mendes, Martinho d'Assunção, etc..
Hermínia Silva

Seria imperdoável não referir o nome de Maria Severa, a primeira figura que nos surgere a história do fado lisboeta. Nasceu em Lisboa, numa barraca nos montes. O seu pai, de etnia cigana, foi Severo Manuel de Sousa e a mãe, Ana Gertrudes, uma portuguesa de Ovar que, emigrada em Lisboa, se tornou numa prostituta célebre da Mouraria, conhecida pelo sobrenome de "Barbuda", profissão que Maria Severa parece ter herdado.

À ascendência cigana de Maria Severa é atribuída a sua beleza exótica, que, conjuntamente com o seu cantar expressivo, "de cantadeira de fado", conquistou os boémios da capital, o que não lhe foi difícil dada a profissão que exerceu.Viveu em  vários bairros de Lisboa: Graça, Bairro Alto e Mouraria, onde veio a morrer. Dela, ficou o relato das mais variadas estórias, amores e aventuras...





Uma breve lista das diversas categorias de Fado, conhecidas:

  • Fado Alcântara
  • Fado Aristocrata ( iniciado por Maria Teresa de Noronha e progredido por membros da sua família)
  • Fado Bailado
  • Fado Batê
  • Fado-Canção
  • Fado Castiço (tradicional dos bairros típicos de Lisboa)
  • Fado Corrido (alegre, desgarrado e dansável)
  • Fado Experimental (dentro do "Fado do Milénio", atinge o auge com Mísia, e dentro do "Fado Em Concerto", atinge o auge com Yolanda Soares)
  • Fado Lopes
  • Fado Marcha Alfredo Marceneiro (criado por Alfredo Marceneiro)
  • Fado da Meia-noite (criado por Felipe Pinto)
  • Fado Menor (fado melancólico, triste e saudoso)
  • Fado Mouraria
  • Fado Pintadinho
  • Fado Tango (criado por Joaquim Campos)
  • Fado Tamanquinhas
  • Fado Vadio (fado não-profissional)
  • Rapsódia de Fados (justaposição ou mescla de fados tradicionais e populares)
  • Fado Marialva ( fado alegre, referente à tradição tauromáquica)
  • Fado de Coimbra (de sonoridade e ritmo diferentes, fado balada, resulta da Tradição Académica da cidade de Coimbra).

Os intérpretes que escolhi para ilustrar esta mensagem, são de entre os mais populares e representam épocas bem distintas da canção nacional. São eles:

HERMÍNIA SILVA:

ALFREDO MARCENEIRO:

AMÁLIA RODRIGUES:

APRESENTAÇÃO OFICIAL DE CANDIDATURA DO FADO:


4 comentários:

peonia disse...

Parabéns por mais esta bela mensagem. História completa do fado, os principais fadistas e suas interpretações. Recordei muita coisa e aprendi muitas outras...
Que nunca lhe falte a vontade e genica, Haydée! Um abraço

Unknown disse...

E a sua atenção e paciência, Peonia,sem igual, para me "aturar"!...
Bem haja!
Bjs amigos.

Claudia disse...

Quero parabenizar todos os portugueses por mais essa conquista, o post como sempre está lindo!
Agora que está terminando o semestre e minhas aulas, terei mais tempo para apreciar com mais calma todas as postagens belíssimas e enriquecedoras.
Um abraço do Brasil.

Unknown disse...

Portugal e os portugueses agradecem. Eu, muito particularmente.
Beijo e um abraço amigo.

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