No dia de São Martinho, mata o teu porco,
chega-te ao lume, assa castanhas e prova o
teu vinho...
São Martinho é o primeiro dos Santos não Mártires, o
primeiro Confessor, que subiu aos altares no Ocidente. A liturgia consagra-lhe
um lugar semelhante ao dos Apóstolos, por ter sido ele quem concluiu a
evangelização das Gálias. A sua festa era guardada e favorecida frequentemente
pelos dias de "verão de São Martinho", rivalizando, na exuberância da
alegria popular, com a festa de São João.
Lenda de São Martinho |
Tinha Oitava, como São Lourenço, porque São Martinho,
"pérola dos sacerdotes", era entre os Confessores o que São Lourenço
era entre os Mártires, o maior dos Confessores. Nasceu na Sabária e veio para
as Gálias como soldado.
Quando ainda era catecúmeno, um dia , em Amiens, deu a um
pobre que lhe pedia esmola por amor de Cristo, metade da clâmide. Na noite
seguinte, Jesus Cristo apareceu-lhe vestido com essa metade que ele dera ao
pobre, e disse-lhe: "Martinho, sendo ainda catecúmeno vestiu-me com este
manto".
Recebeu o batismo aos 18 anos. Depois de viajar pelo
Oriente, onde se iniciou na vida monástica, faz por algum tempo vida de eremita
numa ilha das costas da Ligúria. Finalmente fez-se discípulo de Santo Hilário
que então ocupava a cadeira episcopal de Poitiers e fundou no deserto de
Ligugé, a duas léguas da sede do Bispado, um mosteiro para onde se retirou com
alguns discípulos. Lançou assim os alicerces do monaquismo nas Gálias.
Mas Deus quis que São Martinho fosse arrancado à solidão
e revestiu-o da dignidade episcopal, o que lhe deu ensejo para desenvolver
largamente os dotes do seu coração de apóstolo.
Em noite de São Martinho, castanhas assadas e um copo de vinho... |
Pregou o Evangelho pelos campos
da Gália e extirpou de vez os resíduos tenazes do paganismo, que tinham
resistido à investida cristã a coberto da superstição e ignorância do povo.
Colocado à frente da diocese de Tours, fundou a célebre Abadia de Marmoutiers
ou o grande mosteiro para onde se retirava com frequência, a fim de viver mais
longe do mundo, e mais perto de Deus. Cercavam-no oitenta monges de vida
santíssima, pautada pelo exemplo e regra dos Eremitas de Tebaída.
Viveu mais de oitenta anos, ocupado sempre com a Glória
de Deus e a salvação das almas, e morreu em Candes, perto de Tours, em 397.
Ao seu túmulo afluíam de toda a parte peregrinações
frequentes. Gregório de Tours, que lhe sucedeu, não hesitou em o chamar
"Patrono de todo o mundo". Poucos santos alcançaram a sua
popularidade. A capa de São Martinho era conduzida à frente dos exércitos em
tempo de guerra e com ela se pregavam os sermões solenes em tempo de paz.
O culto de São Martinho começou logo após a sua morte e,
hoje em dia, um pouco por toda a Europa. O São Martinho é festejado não só em
Portugal, mas também na Galiza, nas Astúrias, por toda a Espanha. Fazem-se os
"Magustos", onde as castanhas são assadas no lume das fogueiras
acesas, e onde amigos e familiares reunidos, dançam ao som do seu estalar no calor
do lume.
O vinho novo, jeropiga ou água-pé acompanham as castanhas
assadas, pois, como diz o ditado popular, "no dia de São Martinho vai à
adega e prova o vinho".
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