Fado e Cante Alentejano.
As duas únicas candidaturas, as duas consideradas exemplares e as duas aprovadas pela UNESCO. A candidatura final foi apresentada em 2013 e é fruto do trabalho do Município de Serpa e dos Municípios do Baixo Alentejo, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, da Direção Regional de Cultura do Alentejo, da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, da Comissão Nacional da UNESCO e dos grupos corais de cantadores e respetivas associações.
Na comitiva que seguiu para Paris estavam duas dezenas de homens do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa. David de Mira filmou o grupo em frente à Torre Eiffel.
Pormenor do traje alentejano |
O Cante Alentejano é um género do tradicional canto de duas partes, realizado por grupos corais amadores no sul de Portugal e caracterizadas por melodias distintas, letras e estilos vocais, e realizada sem instrumentação. Os Grupos assim denominados, são formados por cerca de trinta cantores, que ainda se dividem em novos grupos.
O Cante é um aspeto fundamental da vida social em todas as comunidades alentejanas, promovendo assim encontros sociais tanto em espaços públicos como privados. A transmissão deste sentimento musical ocorre principalmente durante os ensaios dos grupos corais, entre os membros mais velhos e os mais jovens. Para os seus praticantes e aficionados, o Cante encarna um forte senso de identidade e de pertença. Reforça também o diálogo entre as diferentes gerações, géneros e indivíduos de diferentes origens, contribuindo assim para a coesão social.
Cante Alentejano no Mosteiro dos Jerónimos |
Após a Segunda Guerra Mundial, a progressiva mecanização da lavoura, a generalização da rádio e da televisão, assim como o êxodo rural massivo, causaram o declínio deste género musical. Hoje o Cante sobrevive em grupos oficializados que o cultivam, mas já sem a espontaneidade de outrora, limitando-se os seus membros a recapitular em ensaio o repertório conhecido de memória, muitas vezes sem qualquer registo escrito ou sonoro e já sem criatividade própria.
Apesar de serem estes grupos os guardiães da tradição, em numerosos casos progride neles o afastamento do Cante original, com a inclusão no repertório de peças estranhas ao Cante, instrumentação e adulteração de peças tradicionais, com destaque para o desvio direito ao Fado.
O Presidente da República felicitou os grupos do Cante Alentejano e os promotores da
candidatura desta arte vocal, que hoje foi integrada no Património Cultural
Imaterial da Humanidade, por decisão do Comité Internacional da UNESCO.
Monumento ao Cante Alentejano |
É o seguinte o teor da mensagem de felicitações do
Presidente Aníbal Cavaco Silva:
“Foi com profunda satisfação que tomei conhecimento da
decisão, tomada hoje na reunião do Comité Internacional da UNESCO, em Paris, de
integrar o Cante Alentejano na lista representativa do Património Cultural Imaterial
da Humanidade.
Mais uma vez, a cultura portuguesa é colocada em destaque
no panorama internacional. Homenageia-se hoje uma arte que nasceu de uma
tradição vernacular e rural, um canto do povo, que é tão belo como as planícies
do Alentejo onde nasceu.
A 25 de abril de 2012, tive ocasião de promover, no
Palácio de Belém, uma iniciativa dedicada ao Cante Alentejano, como incentivo à candidatura que hoje triunfou.
Cante Alentejano |
O Cante traduz
os valores de um povo através das modas, poemas tradicionais cantados sem
recurso a acompanhamento com instrumentos musicais. Por isso, é essencial
preservarmos esta poética e riqueza musical e assegurarmos a sua transmissão às
próximas gerações. O Cante é a marca
e um sinal de um povo, a expressão mais genuína e autêntica da sua identidade.
A consagração como Património Cultural Imaterial da
Humanidade do Cante Alentejano irá
certamente contribuir para um maior conhecimento e salvaguarda desta expressão
musical, e para o incentivo à sua divulgação, especialmente entre os mais
jovens.
Em Portugal existem cerca de 150 grupos deste “canto da
terra”, que hoje felicito com especial alegria, juntamente com todos os que se
dedicaram à elaboração e ao sucesso desta candidatura.
Aníbal Cavaco Silva”
Também o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, em
comunicado enviado à agência Lusa, partilha o “sentimento de orgulho pelo
reconhecimento do Cante Alentejano” a
património cultural.
E lembra que a distinção é o “esperado e merecido tributo”
a uma das referências culturais que “melhor reflete a identidade e a história
de uma comunidade e de uma região”, assim como uma “forma de expressão musical
única” que se pretende continuar a “valorizar e divulgar”, agora com o estatuto
reforçado de “legado mundial”.
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