EPITÁFIO
De mim não
buscareis, que em vão vivi
de outro
mais alto que em mim próprio havia.
Se em meus
lugares, porém, me procurardes
o nada que
encontrardes
eu sou e
minha vida.
Essas
palavras que em meu nome passam
nem minhas
nem de altura são verdade.
Verdade foi
que de alto as desejei
e que de mim
só maldições cobriam.
Debaixo
delas a traição se esconde,
porque
demais me conheci distante
de alturas
que de perto não existem.
Fui livre,
como as águas, que não sobem.
Pensei ser
livre, como as pedras caem.
O nada
contemplei sem êxtase nem pasmo,
que o dia a
dia
em que me
via
ele mesmo
apenas era e nada mais.
Por isso fui
amado em lágrimas e prantos
do muito
amor que ao nada se dedica.
Nada que
fui, de mim não fica nada.
E quanto não
mereço é o que me fica.
Se em meus
lugares, portanto, me buscardes
o nada que
encontrardes
eu sou e
minha vida.
JORGE DE SENA
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