O indiano Kailash Satyarthi e a paquistanesa Malala
Yousafzay ganharam o Nobel da Paz de 2014 "pela sua luta contra a
supressão das crianças e jovens e pelo direito de todos à educação",
anunciou o comité organizador do prémio na manhã de sexta feira passada.
Satyarthi, de 60 anos, é um ativista dos direitos das crianças na Índia e a
Malala sobreviveu a uma tentativa de assassinato dos talibãs em 2012 pela sua militância a favor da educação das meninas
na sua região natal do noroeste do Paquistão.
Com o prémio, Malala, de 17 anos, torna-se na mais jovem ganhadora do Nobel,
superando o cientista australiano-britânico Lawrence Bragg, que compartilhou o
Prémio de Física com o pai, em 1915, aos 25 anos. Na sua conta no microblog
Twitter, Malala disse: "Obrigada por todo apoio e amor".
Depois de receber tratamento médico intensivo, Malala
mudou-se para o Reino Unido. Em 2013, recebeu o prémio Sakharov para a
liberdade de consciência, concedido pelo Parlamento Europeu.
"As crianças precisam de ir para a escola e não
serem exploradas financeiramente. Nos países pobres do mundo, 60% da população
atual tem menos de 25 anos. É fundamental para um desenvolvimento global
pacífico que os direitos das crianças sejam respeitados", disse o presidente
do Comité Nobel norueguês, Thorbjoern Jagland.
"Kailash Satyarthi, mantendo a tradição de Gandhi,
liderou várias formas de protestos e manifestações, todas pacíficas, focando na
grave exploração das crianças para ganho financeiro. Ele também contribuiu para
o desenvolvimento de importantes convenções internacionais sobre o direito da
criança."
Satyarthi afirmou que estava "encantado" com a
notícia, segundo a agência Press Trust of India. "Agradeço ao comité Nobel
por este reconhecimento do sofrimento de milhões de crianças", disse o
premiado.
Abandonou a carreira de engenheiro eletricista
em 1980 e passou a fazer campanha contra o trabalho infantil e a organizar
numerosas formas de protesto pacífico e manifestações contra a exploração de
crianças para ganho financeiro
Malala Yousufzai estava numa aula de Química quando soube
que tinha sido distinguida com o Prémio Nobel da Paz. Sentiu-se honrada por
receber uma distinção que diz não merecer. Decidiu assistir a todas as aulas
que tinha esta sexta-feira e só depois deixou o liceu Edgbaston, em Inglaterra.
Na reacção ao prémio mostrou firmeza nos seus objectivos e prometeu que a sua
luta pelo direito das crianças à educação não irá esmorecer.
“Sinto-me honrada por ter sido escolhida como Prémio
Nobel da Paz. Sinto-me honrada com este precioso prémio. E estou orgulhosa por
ser a primeira paquistanesa e a primeira jovem a conseguir este prémio. É uma
grande honra para mim”, começou por dizer Malala, a jovem laureada do Nobel da Paz
deste ano, de 17 anos, numa conferência de imprensa em Birmingham, onde vive
com a família desde que deixou o Paquistão. Malala sublinhou que este prémio é
“para todas as crianças sem voz”, “para lhes dar coragem”.
A paquistanesa, que queria ser médica e agora quer ser
uma “boa política”, voltou a mostrar a sua faceta de oradora eloquente e
desembaraçada quando lembrou que o prémio não era só seu mas também do indiano
Kailash Satyarthi. “Estou muito contente por partilhar este prémio com uma
pessoa da Índia. Com alguém com um grande caminho pelos direitos das crianças e
contra a escravatura infantil. Inspira-me. Estou muito contente por haver
tantas pessoas que caminham pelos direitos das crianças e que não estou
sozinha”.
A jovem activista aproveitou o facto de ser paquistanesa
e Satyarthi indiano para falar da tensão que ainda ensombra os dois países. “Um
acredita no hinduísmo e outro acredita fortemente no islão. Isso envia uma
mensagem às pessoas, uma mensagem de amor entre o Paquistão e a Índia e entre
as diferentes religiões. Não interessa a cor da pele, a língua que falamos, a
religião em que que acreditamos, devemos considerar-nos todos seres humanos e
devemos respeitar-nos e lutar pelos direitos das crianças, das mulheres e de
todos os seres humanos”.
A jovem disse ter-se comprometido com Satyarthi, com quem
falou ao telefone, a apelarem aos respectivos primeiros-ministros Narendra
Modi, da Índia, e Nawaz Sharif, do Paquistão, para que estejam presentes na
cerimónia de entrega do Prémio Nobel da Paz, em Oslo, a 10 de Dezembro. Malala
e Satyarthi pretendem “caminhar juntos para que todas as crianças tenham
educação”. “Vamos tentar estabelecer ligações fortes entre o Paquistão e a
Índia”.
Num agradecimento à família, Malala falou do pai e da importância
de a ter deixado “voar” para atingir os seus objectivos.
O Prémio Nobel que acaba de receber é tido como um
encorajamento para continuar a sua campanha em defesa do direito das crianças à
educação e da igualdade entre homens e mulheres.
“Às vezes é muito difícil
expressar os nossos sentimentos, mas senti-me muito honrada, mais poderosa e
corajosa. Este prémio é mais que um pedaço de metal, é um encorajamento para
continuar, para acreditar em mim, e saber que há mais pessoas que me apoiam
nesta campanha”.
O primeiro-ministro do Paquistão, Nawaz Sharif, afirmou que Malala é o "orgulho do Paquistão".
Palavras de Malala aos ouvidos surdos do mundo:
«Uma criança, um professor, uma caneta e um livro podem
mudar o mundo. A educação é a única solução. Educação antes de tudo». E «Não
podemos ser bem-sucedidos quando metade do mundo é reprimida».
(Malala Yousafzai
Discurso na ONU a 12 de Julho de 2013, o dia em que completou 16 anos).
10/10/2014 06h01 - Atualizado em 10/10/2014 11h17
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