Os judeus não podem ser colectivamente culpabilizados pela morte de Jesus, afirma o Papa no seu mais recente livro, hoje anunciado e no qual aborda ainda o tema do sofrimento de Cristo e da sua traição às mãos de Judas. Este segundo volume de "Jesus de Nazaré" será apresentado no Vaticano no dia 10 de Março, ficando disponível em português logo no dia seguinte.
Já foram tornadas públicas diversas passagens deste recente livro de Bento XVI sobre Jesus Cristo. Este segundo volume de "Jesus de Nazaré" aborda os últimos dias da vida de Jesus, desde a sua entrada em Jerusalém até à ressurreição, passando naturalmente pela paixão e morte.
Dividido em nove capítulos, a narrativa acompanha os factos de forma cronológica, fazendo uma análise mais detalhada de vários aspectos, desde a data em que terá ocorrido a última ceia (uma vez que existem discrepâncias nos Evangelhos), até ao significado da traição de Judas e a culpabilização que ao longo da história se fez dos judeus, pela morte de Cristo.
Neste último ponto, o Bento XVI é enfático ao negar a tese da responsabilidade colectiva. A posição não é nova e foi mesmo oficializada no Segundo Concílio Vaticano, no documento Nostra Aetate: o Papa sublinha que, ao falar dos "judeus", o apóstolo João estava a referir-se especificamente à aristocracia do Templo e aos seguidores de Barrabás.
Outra passagem bíblica que tende a ser um obstáculo entre cristãos e judeus é a suposta maldição em que os judeus incorrem quando clamam, após a condenação de Jesus, "que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos". Aqui, o Papa inverte totalmente a lógica tradicional, transformando a alegada maldição em benção: "o cristão há-de recordar que o sangue de Jesus fala uma linguagem diferente do sangue de Abel: não pede vingança nem punição, mas é reconciliação. Não foi derramado contra ninguém, mas é sangue derramado por muitos, por todos". Bento XVI explica ainda: "não é maldição, mas redenção, salvação".
Este trecho, em particular, já mereceu rasgados elogios de representantes da comunidade judaica internacional. O rabino David Rosen, responsável pelo diálogo com a Igreja Católica, recorda que as pessoas não tendem a ler documentos como o Nostra Aetate, assim este comentário do Papa terá, sem dúvida, um impacto maior e mais duradouro.
Também em Portugal a comunidade judaica reage com satisfação. Ester Mucznik, vice-presidente da Comunidade Israelita em Lisboa, reconhece que a posição não é nova, mas não deixa de realçar a sua importância: "Vem na mesma linha do Concílio Vaticano II, mas é muito importante que seja dito neste momento também pelo Papa Bento XVI. O argumento do Papa é irrefutável, é a posição oficial da Igreja e nesse sentido acho que é um elemento fundamental de combate ao anti-semitismo, do ponto de vista religioso".
Ontem foi a vez do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu louvar a atitude do Papa ao refutar, mais uma vez, a teoria que durante séculos serviu para justificar o anti-semitismo. Netanyahu manifestou a esperança de que "esta mostra de claridade e coragem reforce as relações entre judeus e cristãos em todo o mundo", afirmando ainda que as palavras de Bento XVI irão ajudar a construir a paz, durante gerações. Nesta mensagem que Netanyahu enviou ao Vaticano, o primeiro-ministro disse ainda que esperava poder encontrar-se em breve
com o Papa, para lhe manifestar o seu agradecimento pessoalmente.
Regressando à analise de "Jesus de Nazaré II", noutra passagem, o Papa refere aquilo a que chama " o mistério da traição", sublinhando especificamente o papel de Judas na sua entrega às autoridades, mas fazendo um paralelo entre aquele acto e a actualidade: "A ruptura da amizade chega mesmo à comunidade sacramental da Igreja, onde há sempre de novo pessoas que partilham 'o seu pão' e O atraiçoam". Segundo Bento XVI, naquele momento Jesus sentiu não só o peso da traição de Judas, mas de todas as traições da história:
"Naquela hora, Jesus carregou a traição de todos os tempos, o sofrimento que deveria ser atraiçoado em cada tempo, suportando assim até ao fundo a miséria da história". Referindo-se ainda a Judas, acrescenta: " A segunda tragédia dele, depois da traição, é já não conseguir acreditar num perdão".
Ao longo do livro, Bento XVI nunca põe de parte os métodos exegéticos, mas afirma que estes, por si só, não chegam para conhecer verdadeiramente Jesus, sendo igualmente preciso ler as escrituras com os olhos da fé.
"Embora continue a haver, naturalmente, detalhes a discutir, todavia espero que me tenha sido concedido aproximar-me da figura de Nosso Senhor de um modo que possa ser útil a todos os leitores que queiram encontrar Jesus e acreditar nele".
Não percamos e meditemos a leitura deste "Jesus da Nazaré II".
Jesus de Nazaré - Segundo volume |
Já foram tornadas públicas diversas passagens deste recente livro de Bento XVI sobre Jesus Cristo. Este segundo volume de "Jesus de Nazaré" aborda os últimos dias da vida de Jesus, desde a sua entrada em Jerusalém até à ressurreição, passando naturalmente pela paixão e morte.
Dividido em nove capítulos, a narrativa acompanha os factos de forma cronológica, fazendo uma análise mais detalhada de vários aspectos, desde a data em que terá ocorrido a última ceia (uma vez que existem discrepâncias nos Evangelhos), até ao significado da traição de Judas e a culpabilização que ao longo da história se fez dos judeus, pela morte de Cristo.
Neste último ponto, o Bento XVI é enfático ao negar a tese da responsabilidade colectiva. A posição não é nova e foi mesmo oficializada no Segundo Concílio Vaticano, no documento Nostra Aetate: o Papa sublinha que, ao falar dos "judeus", o apóstolo João estava a referir-se especificamente à aristocracia do Templo e aos seguidores de Barrabás.
Outra passagem bíblica que tende a ser um obstáculo entre cristãos e judeus é a suposta maldição em que os judeus incorrem quando clamam, após a condenação de Jesus, "que o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos". Aqui, o Papa inverte totalmente a lógica tradicional, transformando a alegada maldição em benção: "o cristão há-de recordar que o sangue de Jesus fala uma linguagem diferente do sangue de Abel: não pede vingança nem punição, mas é reconciliação. Não foi derramado contra ninguém, mas é sangue derramado por muitos, por todos". Bento XVI explica ainda: "não é maldição, mas redenção, salvação".
Bento XVI faz avaliação completa de "Jesus de Nazaré II" |
Este trecho, em particular, já mereceu rasgados elogios de representantes da comunidade judaica internacional. O rabino David Rosen, responsável pelo diálogo com a Igreja Católica, recorda que as pessoas não tendem a ler documentos como o Nostra Aetate, assim este comentário do Papa terá, sem dúvida, um impacto maior e mais duradouro.
Também em Portugal a comunidade judaica reage com satisfação. Ester Mucznik, vice-presidente da Comunidade Israelita em Lisboa, reconhece que a posição não é nova, mas não deixa de realçar a sua importância: "Vem na mesma linha do Concílio Vaticano II, mas é muito importante que seja dito neste momento também pelo Papa Bento XVI. O argumento do Papa é irrefutável, é a posição oficial da Igreja e nesse sentido acho que é um elemento fundamental de combate ao anti-semitismo, do ponto de vista religioso".
Ontem foi a vez do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu louvar a atitude do Papa ao refutar, mais uma vez, a teoria que durante séculos serviu para justificar o anti-semitismo. Netanyahu manifestou a esperança de que "esta mostra de claridade e coragem reforce as relações entre judeus e cristãos em todo o mundo", afirmando ainda que as palavras de Bento XVI irão ajudar a construir a paz, durante gerações. Nesta mensagem que Netanyahu enviou ao Vaticano, o primeiro-ministro disse ainda que esperava poder encontrar-se em breve
com o Papa, para lhe manifestar o seu agradecimento pessoalmente.
Primeiro -ministro Benjamin Netanyahu |
Regressando à analise de "Jesus de Nazaré II", noutra passagem, o Papa refere aquilo a que chama " o mistério da traição", sublinhando especificamente o papel de Judas na sua entrega às autoridades, mas fazendo um paralelo entre aquele acto e a actualidade: "A ruptura da amizade chega mesmo à comunidade sacramental da Igreja, onde há sempre de novo pessoas que partilham 'o seu pão' e O atraiçoam". Segundo Bento XVI, naquele momento Jesus sentiu não só o peso da traição de Judas, mas de todas as traições da história:
"Naquela hora, Jesus carregou a traição de todos os tempos, o sofrimento que deveria ser atraiçoado em cada tempo, suportando assim até ao fundo a miséria da história". Referindo-se ainda a Judas, acrescenta: " A segunda tragédia dele, depois da traição, é já não conseguir acreditar num perdão".
Ao longo do livro, Bento XVI nunca põe de parte os métodos exegéticos, mas afirma que estes, por si só, não chegam para conhecer verdadeiramente Jesus, sendo igualmente preciso ler as escrituras com os olhos da fé.
Jesus de Nazaré |
"Embora continue a haver, naturalmente, detalhes a discutir, todavia espero que me tenha sido concedido aproximar-me da figura de Nosso Senhor de um modo que possa ser útil a todos os leitores que queiram encontrar Jesus e acreditar nele".
Não percamos e meditemos a leitura deste "Jesus da Nazaré II".
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