A minha terra é
Viana!
Sou do monte e sou do
mar.
Só dou o nome de
terra
Onde o da minha
chegar!
(Pedro Homem de
Mello)
Era uma vez uma pequena povoação
nascida no margem direita do rio Lima, junto à foz, quando as águas doces e
vaporosas se misturaram com o bravio das ondas salgadas. Chamava-se Átrio e
tinha, sobranceira, uma montanha de arvoredo, onde no alto existia a
fortificação de um castro habitado por povos sem nome e que, a dada altura,
desceram ao litoral, buscando na pesca melhor alimento e mais comércio.
Era extremamente bela, entre
veigas cultivadas, palmos de horta viçosas, redis, pomares e vinhedos, mas a
sua principal vocação era o mar, a pesca. Na praia, várias embarcações
esperavam pelas madrugadas para serem lançadas às vagas, com o afã dos remos, o
aceno das velas e o espalhar das redes.
Pelo entardecer, as companhas
regressavam ao Átrio, para a alegria das mulheres e crianças, com o fundo da
embarcação coberto e pescado palpitante: a sardinha, o carapau, a faneca, o
congro...
Vinham rio abaixo, habitantes de
outras povoações, para o abastecimento pródigo das suas mesas.
Ora morava no Átrio, na modéstia
de um casebre, uma linda rapariga chamada Ana, filha de pescador e desenvolta
na venda do peixe, sempre com uma canção nos lábios, ouvida a algum jogral
chegado da vizinha Galiza, onde animava os serões dos paços e terreiros das
romarias.
Escutava-lhe, deliciado, estas
cantigas de amor e de amigo, um jovem barqueiro que transportava na correnteza
do rio, até ao Átrio, lavradores, mercadores, à compra de peixe fresco e
saboroso. De tanto escutar a voz harmónica de Ana e de lhe admirar a graça, o
rapaz começou a sentir pela rapariga um amor que ia aumentando dia após dia.
Confessava já aos amigos e
companheiros de lida, o agrado desse amor nascente. E estes, contentes com o
seu contentamento, sorriam quando o moço barqueiro, ao voltar ao Átrio, lhes
atirava um brado feliz:
- Vi Ana! Vi Ana!
Um dia, porém, não se contentou
em vê-la e dirigiu-lhe a palavra, num enleio que corava as faces. A rapariga,
percebeu o vivo interesse amoroso do rapaz por ela, os olhos brilhantes sobre o
rosto, sobre o cabelo dela. O seu coração lisonjeado retribui-lhe esse
interesse, retribui-lhe esse amor.
Não tardou em realizar-se a boda
dos dois namorados. Durante os festejos, os companheiros e amigos do noivo
recordavam-lhe o brado entusiástico:
-Vi Ana! Vi Ana!
O dito foi logo adotado pelos
pescadores do Átrio que passaram a repeti-lo, quando regressavam dos trabalhos
duros da faina, se lhes deparava o vulto acolhedor da montanha, as praias
douradas, as veigas férteis, as águas lentas do rio e a paz dos seus lares:
-Vi Ana! Vi Ana !
Ao conceder o foral à povoação da
foz do Lima, em 1258, o rei D. Afonso III, que a visitara tempos antes,
extasiando-se com tanta beleza e prosperidade, substitui-lhe o nome de Átrio
pelo de Viana.
(António
Manuel Couto - "Lendas do Vale do Lima")
Acorda-se ao som de foguetes,
misturam-se lágrimas com saudades, regressos e reencontros. Dos que voltam e
ficam amarrados às suas coisas que não querem perder. Dos que voltam e partem à
bolina, a sul e a norte, à busca de nova maré.
É a FESTA do Minho, no norte de
Portugal - a animação permanente noite e dia. Um palco cheio de iniciativas e
uma passerelle cheia de atrações que justificam bem a razão de uma visita. São
quatro dias de festa rija, que têm como pontos altos o Desfile da Mordomia,
composto por muitas centenas de minhotas envergando os diversos trajes
regionais, o Cortejo Etnográfico, o Fogo de Artifício e a Procissão ao Mar,
ainda a Feira Franca, os Zés Pereiras, corridas de touros, serenatas e
concertos.
A Procissão ao Mar e Rio Lima, é
uma impressionante manifestação de fé sem fronteiras, sendo por aí que as
nossas caravelas chegaram ao Brasil, Índia e a outros pontos do globo. As ruas
da Ribeira cobrem-se com tapetes floridos, assinalando a passagem da imagem da
Senhora D'Agonia rumo ao mar e são igualmente testemunhos de profunda fé
religiosa.
A etnografia tem o seu espaço nos
desfiles do Cortejo Etnográfico e na Festa do Traje, onde se podem admirar os
belos trajes de noiva, mordoma e lavradeira, vestidos por lindas minhotas que
ostentam peitos repletos de autênticas obras de arte em ouro. A festa
continua...Tocam as concertinas e os bombos, dançam as lavradeiras...
Estas Festas da Senhora D'Agonia
constituem o maior cartaz vivo de atração turística do norte de Portugal. Por
dois motivos: em primeiro lugar, porque mantém a especificidade e a
individualidade que a caracteriza e a torna diferente, o que significa a
preservação do nosso património, das tradições histórico / culturais, da
riqueza do nosso folclore, da autenticidade do artesanato, a valorização dos
costumes.
Em segundo lugar pelo cartaz
turístico da Romaria que já representa, hoje, uma vivência duplamente
centenária ( a Romaria data de 1783) e assumida que foi como símbolo de uma
região. Região que em termos populares a designa de FESTA.
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