Agora,
já ninguém escreve ao coronel. Gabriel García Márquez faleceu, esta
quinta-feira, em casa, na cidade do México, acompanhado pela mulher e pelos
dois filhos.
O
escritor colombiano tinha 87 anos e regressara, recentemente, do hospital, onde
tinha sido internado devido a uma pneumonia.
O
Nobel da Literatura, que classificara Lisboa como a maior aldeia do mundo,
disse,em 1970, que “Portugal estava condenado a sentar-se de sapatos rotos e
casaco remendado na mesa dos mais ricos do mundo”.
A
Colômbia decretou três dias de luto nacional.
Morreu o escritor que seduziu
milhões de pessoas com as suas histórias, ancoradas no realismo mágico.
Uma
das primeiras reações à morte de “Gabo”, como era conhecido, surgiu de um outro
escritor latino-americano, Mario Vargas Llosa: “Morreu um grande homem, cujo
trabalho deu uma enorme difusão e prestigio à língua espanhola. As suas
histórias sobrevivem e continuarão a ganhar leitores em todo o lado. Envio as
minhas condolências à família”, declarou o escritor.
"100 Anos de Solidão", "Amor em Tempos de Cólera" ou "Crónica de uma Morte Anunciada", são
algumas das obras do Nobel da literatura de 1982.
O
seu corpo será incinerado no México.
O
dom da escrita fez de Gabriel García Marquéz, Prémio Nobel da Literatura
(1982), um dos autores de referência do século XX. No ano passado, Jaime García
Marquéz, irmão do autor, anunciou ao Mundo que o escritor sofria de uma
demência senil. Como despedida, o Nobel escreveu uma carta, que reproduzo na
íntegra:
“Se,
por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me
presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso,
mas, certamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo o que
valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a
cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria
quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando
os outros falassem e disfrutaria de um bom gelado de chocolate.
Se
Deus me presenteasse com um pedaço de vida vestiria simplesmente, jogar-me-ia
de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como também a
minha alma.
Deus
meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperaria
que o sol saisse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema
de Mário Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à
Lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o
encarnado beijo das suas pétalas.
Deus
meu, se eu tivesse um pedaço de vida!… Não deixaria passar um só dia sem dizer
às pessoas: amo-te, amo-te. Convenceria cada mulher e cada homem de que são os
meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor.
Aos
homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensar que deixam de se
apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se
apaixonar.
A
uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.
Aos
velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.
Tantas
coisas aprendi com vocês, os homens… Aprendi que todos querem viver no cimo da
montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com sua pequena mão, pela primeira
vez, o dedo do pai, tem-no prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem
o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
São
tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, a mim não poderão servir
muito, porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a
morrer.”
Todavia, ao longo do tempo, a autoria desta carta tem sido contestada...
Descanse em paz na morte, quem tanto nos encantou em vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário