É O QUE FESTEJAMOS HOJE EM PORTUGAL...
quarta-feira, abril 30, 2014
segunda-feira, abril 28, 2014
PELA NOITE...Com Vasco Graça Moura (1942-2014)
SONETO DO AMOR E DA MORTE
quando eu morrer murmura esta
canção
que escrevo para ti. quando eu
morrer
fica junto de mim, não queiras
ver
as aves pardas do anoitecer
a revoar na minha solidão.
quando eu morrer segura a minha
mão,
põe os olhos nos meus se puder
ser,
se inda neles a luz esmorecer,
e diz do nosso amor como se não
tivesse de acabar, sempre a
doer,
sempre a doer de tanta
perfeição
que ao deixar de bater-me o
coração
fique por nós o teu inda a
bater,
quando eu morrer segura a minha
mão.
VASCO GRAÇA MOURA(1942-2014),
in "Antologia dos Sessenta
Anos"
Com este poema, "Preto, Branco, E.." presta uma singela e derradeira homenagem a quem foi uma das maiores figuras da cultura portuguesa do século XX, agora desaparecida.
domingo, abril 27, 2014
ESTA NOITE...Com José Régio
CÂNTICO NEGRO
"Vem por aqui" —
dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e
seguros
De que seria bom que eu os
ouvisse
Quando me dizem: "vem por
aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e
cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo
sem-vontade
Com que rasguei o ventre à
minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por
onde
Me levam meus próprios
passos...
Se ao que busco saber nenhum de
vós responde
Por que me repetis: "vem
por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos
lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés
sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas
virgens,
E desenhar meus próprios pés na
areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos,
ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus
obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue
velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes,
os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes
canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e
filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a
arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e
cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam,
mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram
mãe;
Mas eu, que nunca principio nem
acabo,
Nasci do amor que há entre Deus
e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas
intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por
aqui"!
A minha vida é um vendaval que
se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se
animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
JOSÉ RÉGIO
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POEMAS SOLTOS- Cântico Negro. José Régio.
sábado, abril 26, 2014
quinta-feira, abril 24, 2014
DO 25 DE ABRIL, GUARDO ESTA RECORDAÇÃO.
OS
PUTOS
Uma
bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.
Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.
Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.
As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo
Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.
ARY
DOS SANTOS
1937-12-07
- 1984-01-18
Portugal
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POEMAS SOLTOS-Os Putos. Ary dos Santos.
terça-feira, abril 22, 2014
33, A CONTA QUE JESUS FEZ...- SLB CAMPEÃO NACIONAL DE FUTEBOL 2014
Neste último domingo, depois de obter mais uma brilhante vitória, o Benfica consagrou-se Campeão Nacional de Futebol 2013-2014. Ao Glorioso, prestamos esta singela homenagem, tendo no coração o quanto o Benfica tem feito pela divulgação do nome de Portugal.
OBRIGADA, CAMPEÃO!
NO DIA MUNDIAL DA TERRA, Com ALBERTO CAEIRO (Heterónimo de FERNANDO PESSOA)
Se
eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o
dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que
fica...
Assim é e assim seja ...
ALBERTO
CAEIRO, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXI"
(Heterónimo de Fernando Pessoa)
sábado, abril 19, 2014
PARA TODOS, UMA SANTA E FELIZ PÁSCOA...
“EIS O MISTÉRIO DA FÉ!”.
“ANUNCIAMOS,
SENHOR, A VOSSA MORTE E
PROCLAMAMOS A VOSSA RESSURREIÇÃO. VINDE,
SENHOR JESUS!”
PARA TODOS, UMA SANTA E FELIZ PÁSCOA .
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RELIGIÃO- Páscoa 2014.
sexta-feira, abril 18, 2014
Morre o Escritor Colombiano Gabriel García Márquez
Agora,
já ninguém escreve ao coronel. Gabriel García Márquez faleceu, esta
quinta-feira, em casa, na cidade do México, acompanhado pela mulher e pelos
dois filhos.
O
escritor colombiano tinha 87 anos e regressara, recentemente, do hospital, onde
tinha sido internado devido a uma pneumonia.
O
Nobel da Literatura, que classificara Lisboa como a maior aldeia do mundo,
disse,em 1970, que “Portugal estava condenado a sentar-se de sapatos rotos e
casaco remendado na mesa dos mais ricos do mundo”.
A
Colômbia decretou três dias de luto nacional.
Morreu o escritor que seduziu
milhões de pessoas com as suas histórias, ancoradas no realismo mágico.
Uma
das primeiras reações à morte de “Gabo”, como era conhecido, surgiu de um outro
escritor latino-americano, Mario Vargas Llosa: “Morreu um grande homem, cujo
trabalho deu uma enorme difusão e prestigio à língua espanhola. As suas
histórias sobrevivem e continuarão a ganhar leitores em todo o lado. Envio as
minhas condolências à família”, declarou o escritor.
"100 Anos de Solidão", "Amor em Tempos de Cólera" ou "Crónica de uma Morte Anunciada", são
algumas das obras do Nobel da literatura de 1982.
O
seu corpo será incinerado no México.
O
dom da escrita fez de Gabriel García Marquéz, Prémio Nobel da Literatura
(1982), um dos autores de referência do século XX. No ano passado, Jaime García
Marquéz, irmão do autor, anunciou ao Mundo que o escritor sofria de uma
demência senil. Como despedida, o Nobel escreveu uma carta, que reproduzo na
íntegra:
“Se,
por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marioneta de trapo e me
presenteasse com um pedaço de vida, possivelmente não diria tudo o que penso,
mas, certamente pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não pelo o que
valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, pois sei que a
cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria
quando os demais parassem, acordaria quando os outros dormem. Escutaria quando
os outros falassem e disfrutaria de um bom gelado de chocolate.
Se
Deus me presenteasse com um pedaço de vida vestiria simplesmente, jogar-me-ia
de bruços no solo, deixando a descoberto não apenas meu corpo, como também a
minha alma.
Deus
meu, se eu tivesse um coração, escreveria o meu ódio sobre o gelo e esperaria
que o sol saisse. Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre as estrelas um poema
de Mário Benedetti e uma canção de Serrat seria a serenata que ofereceria à
Lua. Regaria as rosas com as minhas lágrimas para sentir a dor dos espinhos e o
encarnado beijo das suas pétalas.
Deus
meu, se eu tivesse um pedaço de vida!… Não deixaria passar um só dia sem dizer
às pessoas: amo-te, amo-te. Convenceria cada mulher e cada homem de que são os
meus favoritos e viveria apaixonado pelo amor.
Aos
homens, provar-lhes-ia como estão enganados ao pensar que deixam de se
apaixonar quando envelhecem, sem saber que envelhecem quando deixam de se
apaixonar.
A
uma criança, daria asas, mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.
Aos
velhos ensinaria que a morte não chega com a velhice, mas com o esquecimento.
Tantas
coisas aprendi com vocês, os homens… Aprendi que todos querem viver no cimo da
montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a rampa.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta, com sua pequena mão, pela primeira
vez, o dedo do pai, tem-no prisioneiro para sempre. Aprendi que um homem só tem
o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
São
tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, a mim não poderão servir
muito, porque quando me olharem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a
morrer.”
Todavia, ao longo do tempo, a autoria desta carta tem sido contestada...
Descanse em paz na morte, quem tanto nos encantou em vida.
quinta-feira, abril 17, 2014
VIA CRUCIS (VIA SACRA) - Sexta Feira Santa
Num tempo em que somos convidados à reflexão, a Igreja Católica convida-nos a percorrer o caminho
que Cristo percorreu, desde a sua entrada triunfante em Jerusalém até à morte na cruz. É um percurso que se estende desde o Pretório até ao Calvário. As suas estações, presentemente, são quatorze, embora ao longo do tempo este número tenha sofrido alterações.
1.Estação: Jesus é condenado à morte
2.Estação: Jesus carrega a cruz às costas
3.Estação: Jesus cai pela primeira vez
4.Estação: Jesus encontra a sua Mãe
5.Estação: Simão Cirineu ajuda a Jesus
6.Estação: Verónica limpa o rosto de Jesus
7.Estação: Jesus cai pela segunda vez
8.Estação: Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
9.Estação: Terceira queda de Jesus
10.Estação: Jesus é despojado de suas vestes
11.Estação: Jesus é pregado na cruz
12.Estação: Jesus morre na cruz
13.Estação: Jesus é descido da cruz
14.Estação: Jesus é Sepultado
João Villaret - "A Procissão", de António Lopes Ribeiro
PROCISSÃO
Tocam os sinos da torre da
igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo
chão.
Na nossa aldeia que Deus a
proteja!
Vai passando a procissão.
Mesmo na frente, marchando a
compasso,
De fardas novas, vem o solidó.
Quando o regente lhe acena com
o braço,
Logo o trombone faz popó, popó.
Olha os bombeiros, tão bem
alinhados!
Que se houver fogo vai tudo num
fole.
Trazem ao ombro brilhantes
machados,
E os capacetes rebrilham ao
sol.
Tocam os sinos na torre da
igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo
chão.
Na nossa aldeia que Deus a
proteja!
Vai passando a procissão.
Olha os irmãos da nossa
confraria!
Muito solenes nas opas
vermelhas!
Ninguém supôs que nesta aldeia
havia
Tantos bigodes e tais
sobrancelhas!
Ai, que bonitos que vão os
anjinhos!
Com que cuidado os vestiram em
casa!
Um deles leva a coroa de
espinhos.
E o mais pequeno perdeu uma
asa!
Tocam os sinos na torre da
igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo
chão.
Na nossa aldeia que Deus a
proteja!
Vai passando a procissão.
Pelas janelas, as mães e as
filhas,
As colchas ricas, formando
troféu.
E os lindos rostos, por trás
das mantilhas,
Parecem anjos que vieram do
Céu!
Com o calor, o Prior aflito.
E o povo ajoelha ao passar o
andor.
Não há na aldeia nada mais
bonito
Que estes passeios de Nosso
Senhor!
Tocam os sinos na torre da
igreja,
Há rosmaninho e alecrim pelo
chão.
Na nossa aldeia que Deus a
proteja!
Já passou a procissão.
ANTÓNIO LOPES RIBEIRO
quarta-feira, abril 16, 2014
PELA NOITE...Com David Mourão-Ferreira
NOCTURNO
O desenho redondo do teu seio
Tornava-te mais cálida, mais nua
Quando eu pensava nele...Imaginei-o,
À beira-mar, de noite, havendo lua...
Talvez a espuma, vindo, conseguisse
Ornar-te o busto de uma renda leve
E a lua, ao ver-te nua, descobrisse,
Em ti, a branca irmã que nunca teve...
Pelo que no teu colo há de suspenso,
Te supunham as ondas uma delas...
Todo o teu corpo, iluminado, tenso,
Era um convite lúcido às estrelas....
Imaginei-te assim à beira-mar,
Só porque o nosso quarto era tão estreito...
- E, sonolento, deixo-me afogar
No desenho redondo do teu peito...
DAVID MOURÃO-FERREIRA
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POEMAS SOLTOS-Nocturno.David Mourão-Ferreira
terça-feira, abril 15, 2014
O OUTONO TAMBÉM SE PINTA COM CORES DA PRIMAVERA...
Sarah
Jones é a nova revelação do concurso de talentos "Britain's Got
Talent" 2014. Esta bisavó, de 79 anos, impressionou o júri com um momento
virogoso de salsa acrobática, mostrando resistência e flexibilidade, ao dançar
com o seu parceiro Nico Espinosa, 40 anos mais novo…
domingo, abril 13, 2014
DIA MUNDIAL DO BEIJO - Alexandre O'Neill
O BEIJO
O Beijo Congresso de gaivotas
neste céu
Como uma tampa azul cobrindo o
Tejo.
Querela de aves, pios,
escarcéu.
Ainda palpitante voa um beijo.
Donde teria vindo! (Não é
meu...)
De algum quarto perdido no
desejo?
De algum jovem amor que recebeu
Mandado de captura ou de
despejo?
É uma ave estranha: colorida,
Vai batendo como a própria
vida,
Um coração vermelho pelo ar.
E é a força sem fim de duas
bocas,
De duas bocas que se juntam,
loucas!
De inveja as gaivotas a
gritar...
ALEXANDRE O’NEILL,
in 'No Reino da Dinamarca'
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