terça-feira, novembro 29, 2011

MUITO OBRIGADO! - BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME (PORTUGAL)





A campanha do Banco Alimentar Contra a Fome recolheu 2.950 toneladas de alimentos em superfícies comerciais de todo o país. Os números de balanço, ainda provisório, apontam para a manutenção dos alimentos recolhidos em comparação com a recolha do Natal passado. Os bens alimentares serão entregues a 2.047 instituições de solidariedade social em todo o país, que dão apoio a cerca de 329 mil pessoas com mais dificuldades financeiras.



MUITO OBRIGADO, 
Portugal Agradece.







domingo, novembro 27, 2011

PEDRO HOMEM DE MELLO (1904-1984), O Poeta Esquecido - Apontamento de Poesia Contemporânea (Parte VI)












Pedro Homem de Mello, de nome completo Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello, o poeta esquecido por quase todos, nasceu a 6 de setembro de 1904 na cidade do Porto, e faleceu nesta mesma cidade a 5 de março de 1984. Por sua própria vontade, está sepultado em campa rasa, no cemitério de Afife, Viana do Castelo.

Pedro Homem de Mello e Amália Rodrigues


Afife foi a sua terra de adopção. Ali viveu durante anos num local paradisíaco, no Convento de Cabanas, junto ao rio com o mesmo nome, onde escreveu parte da sua obra, "cantando" os costumes e tradições de Afife e da Serra de Arga.

Nasceu no seio de uma família fidalga, filho de António Homem de Melo e de Maria do Pilar Cunha Pimentel, tendo sido, desde muito jovem imbuído de ideais monárquicos, católicos e conservadores. Foi sempre um amigo sincero do povo e a sua poesia é disso um reflexo. O seu pai, pertenceu ao círculo íntimo do poeta António Nobre.

Estudou Direito em Coimbra, acabando por se licenciar em Lisboa , em 1926. Exerceu a advocacia, foi subdelegado do Procurador Geral da República e, posteriormente, professor de português em escolas técnicas do Porto, tendo mesmo exercido o cargo de diretor da Escola Mouzinho da Silveira.

Convento de Cabanas, residência de Pedro Homem de Mello

Membro dos Júris dos prémios do secretariado de propaganda nacional, foi um entusiástico estudioso e divulgador do folclore português, criador e patrocinador de diversos ranchos folclóricos minhotos. Durante os anos de 60 e 70, foi autor e apresentador de um popular programa na RTP, sobre essa temática.

Pedro Homem de Mello casou com Maria Helena Pamplona de quem teve dois filhos. Foi um dos colaboradores do movimento da revista Presença. Apesar de gabada por numerosos críticos, a sua vastíssima obra poética, semeada de um lirismo puro e pagão (claramente influenciada por António Botto e Frederico Garcia Lorca), está injustamente votada ao esquecimento. Entre os seus poemas mais famosos destacam-se Povo que Lavas no Rio e Havemos de Ir a Viana, imortalizados por Amália Rodrigues, e O Rapaz da Camisola Verde.

Serra de Arga

A sua obra poética é extensa (cerca de 25 volumes de poesia) que surpreende pela coerência de características métricas, temáticas e retóricas mantidas quase inalteráveis de livro para livro. Integrando uma poesia de cunho tradicional, fundada na regularidade rítmica e versificatória, tematiza frequentemente a revolta, o desafio da lei ou da repressão moral, a mitificação do Povo, " numa abordagem complexa que conjuga certo aristocracismo folclórico com a construção de algumas imagens-símbolo" (cf. Óscar Lopes -Entre Fialho e Nemésio II).

Os Poemas de Pedro Homem de Mello bifurcam-se em dois grandes grupos: um, em que certa realidade da paisagem humana e natural do norte minhoto ao centro litoral, irrompe; outro, em que a densidade conflituosa das paixões se prende numa manifestação lírica quase confessional.

Monumento a Pedro Homem de Mello,
 em Afife

 Ao mesmo tempo, a sua poesia, de raiz popular, deixa revelar uma faceta importante de escritor apaixonado pelo folclore português, área para a qual escreveu diversos ensaios e desenvolveu programas de rádio e televisão.

Foi distinguido com o Prémio Antero de Quental (1940) e o Prémio Nacional de Poesia (1973). A sua obra poética encontra-se compilada em Poesias Escolhidas (1983). Como estudioso do folclore nacional, escreveu A Poesia na Dança e nos Cantares do Povo Português (1941) e Danças de Portugal (s/d).

Esta minha publicação sobre o poeta Pedro Homem de Mello, que eu chamei de "Poeta Esquecido", creio que se enquadra de maneira perfeita nesta época festiva em que o Fado comemora a sua nomeação a Património Imaterial da Humanidade.

Pedro Homem de Mello e os seus poemas, foram  fonte da inspiração das mais belas melodias que o compositor Alan Oulman mais tarde, imortalizou através da voz ímpar de Amália Rodrigues.


Homenagem no centenário de Pedro Homem de Mello






Melodias de uma pureza quase visceral, senhoras da universalidade, entraram no universo coletivo dos portugueses, tendo sido desde então recriadas, revistas e mesmo reinventadas por todas as posteriores gerações de artistas. 


Sentimentos, convicções e desejos que afloram a cada verso, a cada rima, numa cadência de beleza e emotividade profundas e inconfundíveis...


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POEMAS DE PEDRO HOMEM DE MELLO:



Havemos de ir a Viana
...Se o meu sangue não me engana,
Como engana a fantasia,
Havemos de ir a Viana,
Oh meu amor de algum dia...
Partamos de flor ao peito,
Que o Amor é como o vento
Quem pára perde-lhe o jeito,
E morre a todo o momento...
Ciganos verdes ciganos,
Deixai-me com esta crença:
Os pecados têm vinte anos,
E o remorso tem oitenta...

Povo
Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado                                      
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!

Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!

Fui ter à mesa redonda,
Bebendo em malga que esconda
O beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida, não!

Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!

Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!

Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas,
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seio...
Mas a tua vida, não!

Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...

Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida, não!

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!

Inocência
De um lado a veste; o corpo, do outro lado,
Límpido, nu, intacto, sem defesa...
Mitológico rosto debruçado
Na noite que, por ele, ficou acesa!
1-Havemos de Ir... 2-Povo  3-Inocência  4-Cisne
5- Versos Soltos  6-O Rapaz da Boina Verde

Se traz os lábios húmidos e lassos
É que a paixão sem mácula ainda o cega
E tatuou na curva de alvos braços
As sete letras da palavra: entrega.

Acre perfume o dessa flor agreste.
Álcool azul o desse verde vinho.
De um lado, o corpo; do outro lado, a veste
Como luar deitado no caminho...

Em frente há um pinheiro cismador.
O rio corre, vagaroso ao fundo.
Na estrada ninguém passa... Ai! Tanto amor
Sem culpa!
Ai! dos Poetas deste mundo!                 


O rapaz da camisola verde
De mãos nos bolsos e de olhar distante,
Jeito de marinheiro ou de soldado,
Era um rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Perguntei-lhe quem era e ele me disse
"Sou do monte, Senhor, e um seu criado".
Pobre rapaz de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Porque me assaltam turvos pensamentos?
Na minha frente estava um condenado.
Vai-te, rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Ouvindo-me, quedou-se o bravo moço,
Indiferente à raiva do meu brado,
E ali ficou de camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Soube depois que ali se perdera
Esse que só eu pudera ter salvado.
Ai do rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Ai do rapaz da camisola verde,
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.
Negra madeixa ao vento,
Boina maruja ao lado.

Versos soltos:
Porque é que adeus me disseste
Ontem e não noutro dia,
Se os beijos que, ontem, me deste
Deixaram a noite fria?

Sabe tão bem poisar aqui
A enxada
Lavar as mãos onde o suor correu
Dizendo ao ver na casa abençoada
Os filhos e a mulher
Tudo isto é meu.

...Só a idade com o tempo
Há-de vir tornar-me forte.
A uns, basta-lhes o vento...
Aos Poetas, basta a morte.









"SEI DE UM RIO":
" POVO":




terça-feira, novembro 22, 2011

ROBERTO BOLLE - Sucessor de Rudolf Nureyev?





A última vez que Rudolf Nureyev apareceu no Teatro La Scala, de Milão, para preparar a sua produção do bailado Quebra-Nozes, o grande bailarino considerado já à data como uma lenda viva do Ballet, reparou e observou Roberto Bolle, ao tempo com a idade de 15 anos, no bar do estúdio.
Roberto Bolle em Morte em Veneza

Profundamente impressionado, pediu ao garoto, extremamente emocionado, para executar alguns exercícios, mesmo ali no bar. Este encontro influenciou o destino de Roberto para sempre. Alguns dias passados, foram os suficientes para Nureyev tomar a decisão de o escolher para realizar Tardizio, no bailado Morte em Veneza.

Roberto Bolle nasceu em Casale Monferrato no Piemonte, Itália, em 26 de março de 1975. Começou a estudar Ballet aos sete anos, numa escola local, e com a idade de onze anos iniciou a sua frequência da escola de Ballet do Teatro La Scala de Milão. Foi aí e ao fim de três anos que se deu o seu encontro com Nureyev, e o respectivo convite para a interpretação de Tardizio, em Morte em Veneza.
Roberto Bolle - Expo Xangai 2010

Em 1996, após uma aparição em Romeu e Julieta, com vinte anos de idade, Bolle foi promovido a bailarino principal do La Scala. Um ano mais tarde, abandonou esta posição e optou por seguir uma carreira como "freelance". Desde então já participou do Royal Ballet, o Ballet de Tóquio, o Ballet Nacional do Canadá, o Ballet de Estugarda, o Ballet Nacional da Finlândia, a Staatsoper de Berlim, a Ópera Estadual de Viena, e ainda outros Ballets de referência na Áustria. Participou ainda em 8 ou 9 Festivais Internacionais de Ballet nas cidades de Tóquio, Roma, Nápoles e Florença.

Derek Deane, diretor do National English Ballet, criou duas produções para Bolle: O Lago dos Cisnes e Romeu e Julieta, ambas realizadas no Royal Albert Hall, em Londres. No 10.º aniversário do Teatro de Ópera do Cairo, dançou no cenário natural das Pirâmides de Gizé, em Aida, e depois na Arena de Verona, para uma nova versão da ópera ao vivo, em todo o mundo.
Roberto Bolle - Roberto Bolle and Friends

Em outubro de 2000 dançou na presença de Vladimir Putin, na abertura da temporada do Covent Garden de Londres. E em junho de 2002, quando do Golden Jubilee da Rainha Elizabeth II, dançou no Palácio de Buckingham, na presença da Rainha. E ainda, entre outras numerosas actuações perante presenças famosas, em 1 de abril de 2004 dançou diante de João Paulo II, na celebração do dia dos jovens.

Desde 1999 que exerce o cargo de Embaixador da Boa Vontade  para a UNICEF: em 2006 deslocou-se ao Sudão, onde visitou escolas e hospitais. Em junho de 2007, tinha já conseguido amealhar mais de 655.000 U.S.dólares para projetos de educação e saúde, no Sudão.
Rudolf Nureyev

A primeira vez que Roberto Bolle actuou como Bailarino Principal, foi na primavera de 2009, no Metropolitan Opera House de Nova Iorque, como Bailarino Principal do American Ballet Theatre. A "Lista de Dança" no jornal New Yorque Times de 26 de Junho de 2009, descreve Bolle como "absolutamente deslumbrante ( quer como bailarino, quer como homem).

Robert Bolle já apareceu em várias revistas de moda e estilo, e tem protagonizado diversas campanhas publicitárias: já foi apresentado por Ferragamo, em 2008 e tem também um contrato com Giorgio Armani, seu estilista pessoal. Foi também destaque da revista Vogue EUA 2009, ao lado da top model Coco Rocha, numa propagação editorial.

Esta faceta de Bolle, cuja perfeição física é inegável, pode, segundo alguns críticos, prejudicar a sua carreira como bailarino, conduzindo-o à tentação da sua exploração, em detrimento das suas aptidões de profissional do Ballet. Opiniões apontam mesmo para Bolle como um profissional "somente profissional", perfeito na aula e na barra, mas muito longe do "bicho" e do "tigre" que existiram em Rudolf Nureyev...
Rudolf Nureyev e Margot Fonteyn em Giselle


Com a idade de 36 anos, jovem na vida, não o será tanto como bailarino. Pode ainda evoluir relativamente. É talvez cedo para "acontecer" história, no que toca a Roberto Bolle...

Será o tempo que o poderá apontar, ou não, como sucessor de Nureyev.

Fica a incógnita...












quinta-feira, novembro 17, 2011

PURO SANGUE LUSITANO ( ALTER REAL) - O Filho Do Vento...





A raça "Puro Sangue Lusitano", mais conhecido como Cavalo Lusitano tem origem nos cavalos primitivos da Península Ibérica, tendo recebido também alguma influência de sangue árabe e de cavalos do norte de África.
Cavalo  representado nas pinturas rupestres das Grutas de La Pileta
e do Escoural.

A raça de Cavalo Lusitano foi oficializada com a criação do Stud Book do PSL em 1957, apesar do seu biotipo e as suas aptidões já serem conhecidas, reconhecidas e apreciadas há muito tempo. Para além de um padrão estatístico extraído das médias das medidas dos seus indivíduos em certa época, as características do Puro Sangue Lusitano são definidas sobretudo pelas suas aptidões funcionais. 

A sua agilidade e flexibilidade fazem dele o cavalo ideal para o toureio a cavalo e pela guerra ou guerrilha, inteligência, poder de reunião e maleabilidade escolhido pela arte equestre, e a empatia e companheirismo tornam-no no cavalo ideal , selecionado por 5.000 anos de equitação. O Cavalo Lusitano é um cavalo vibrante, mas submisso, forte mas flexível, corajoso porém seguro. 
Rei D. João V

Tudo isto e ainda outras aptidões, elegem-no como um cavalo de sela por excelência : extremamente confiável, é também o cavalo ideal para principiantes, alta escola (Haute École) e exercícios de ares altos, uma vez que põe os membros inferiores debaixo da massa, com grande facilidade. Assim o Lusitano revela-se não só no toureio e equitação clássica, mas também nas disciplinas equestres federadas como "dressage", obstáculos, atrelagem e em especial na equitação de trabalho, estando no mesmo patamar que os melhores especialistas da modalidade.

Foram estes cavalos portugueses, os escolhidos para a produção do filme " O Senhor dos Anéis".

As representações mais antigas dos ancestrais do Cavalo Lusitano, remontam à Pré-História e podem ser admiradas nas pinturas rupestres das Grutas de La Pileta (Málaga, Espanha) datadas de 20.000 A.C., e no Escoural (Alentejo, Portugal) conhecidas de 17.000 A.C. e 13.000 A.C..

Fenícios, Gregos, Cartagineses e Romanos habitaram a Península Ibérica.
Gravura do livro de Manoel Carlos Andrade, picador da Picaria Real

As duas primeiras civilizações não trouxeram cavalos suficientes para que pudessem influenciar de uma forma substancial o Cavalo Ibérico. Porém os Gregos têm uma lenda que descreve os cavalos da Lusitânia, das margens do rio Tejo, como sendo "filhos do vento". Esta é certamente, uma forma metafórica e poética que permite perceber como o Cavalo Ibérico era considerado na antiguidade.

No livro "Cavalo Lusitano o filho do vento", Arsénio Raposo escreve: "A perfeita ligação entre o homem ibérico e o seu cavalo poderia ter dado inspiração original à lenda dos centauros, Uma criatura híbrida, meio homem, meio cavalo, considerada originária dos vales do rio Tagus (Tejo). Nesses tempos acreditava-se também, que as éguas desta região eram geradas pelo vento, que representava a espantosa rapidez com que davam o seu progénio"...
Rei D. José I

Os Cartagineses e os Romanos trouxeram consigo principalmente o cavalo Berbere. Este facto poderá ser observado pelas diversas estátuas e moedas dessas civilizações, que mostram um cavalo de perfil convexo. A seguir à queda do Império Romano, as tribos da Europa Central: os Vândalos, Suevos e Alanos, repartiram a Península Ibérica entre si. Os primeiros dois povos trouxeram cavalos ancestrais às raças alemãs dos cavalos pesados.

Os Suevos, que tomaram controlo de uma boa parte da Penísula Ibérica, trouxeram cavalos similares aos dos Celtas. Mais tarde foram derrotados pelos Visigodos, que introduziram também o cavalo Berbere e o cavalo Árabe, que se cruzaram com o cavalo Ibérico. Assim, em pleno século XII, os cavalos tinham para Portugal, um importante papel no campo de batalha.

Mais tarde o Rei D. João V (casado com D. Maria da Áustria, uma admiradora da Escola de Viena) fundou a coudelaria de Alter Real, onde começou a ser criado um cavalo que se enquadra no modelo do Cavalo Lusitano. As éguas e garanhões para o estabelecimento da coudelaria de Alter Real foram trazidos de Espanha. Estes cavalos, da coudelaria de Alter Real, eram os usados na Picaria Real, que se estabeleceu, na época  como a escola de arte equestre.
Coudelaria de Alter  (Alter Real)

O Rei D. José I, filho de D. João V, fez com que a coudelaria de Alter Real e a Picaria Real prosperassem e evoluíssem no ensino equestre. Porém no século XIX a Picaria Real foi encerrada e no século XX iniciou-se a Escola  Portuguesa de Arte Equestre, inspirada na Picaria Real. Em 1885, Bernardo Lima, no seu livro sobre as raças portuguesas, usou o termo Lusitano para cavalos nascidos em Portugal e com características que os permitissem inscrever no Stud Book Português.

A raça Lusitana começou oficialmente em 1967.

Para além da coudelaria de Alter (Alter Real), existem ainda outras coudelarias que se dedicam à criação do Puro Sangue Lusitano, quase todas de iniciativa privada. O interesse pela raça do Puro Sangue Lusitano ultrapassa as fronteiras de Portugal, com um interesse cada vez maior.
Puro Sangue Lusitano

 Países como o Brasil, França e México são os que demostram  maior interesse por esta raça. Mas também já existem comunidades do Cavalo Lusitano na Bélgica, Estados Unidos da América, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha e Reino Unido.

O interesse pelo Cavalo Lusitano estende-se ainda por grande parte do continente Africano, Norte da Europa e América do Sul, e também continente Asiático...


"...Bem modelado, de temperamento e carácter dócil, corajoso, nobre e elegante, um belo cavalo, com pernas leves, de físico forte, corrida harmoniosa e uniforme no trote e galope; firme e seguro, mais nobre e talvez mais belo que qualquer outro."
( General Joaquim António Vito Moreira , Cavaleiro da família real)





quarta-feira, novembro 16, 2011

GALA EQUESTRE NO CAMPO PEQUENO - 5 DE NOVEMBRO DE 2011




Esta foi a Gala Equestre que teve lugar no passado dia 5 de novembro, no Campo Pequeno, tal como a pude apreciar. Em condições longe de serem ideais, é certo, porque inesperadamente a direção do espetáculo decidiu montar a mesa de produção exatamente na frente do meu e de outros lugares, um pouco abaixo. Não constava do programa e muito menos do planeamento dos lugares disponíveis para o espetáculo, quando da sua compra...

Com grande parte do ângulo visual cortado, e sendo estreante nestas lides da filmagem e respetiva montagem, aqui  está o resultado do meu esforço, acompanhado das desculpas pela qualidade deste mesmo resultado...

Mas a beleza da Gala Equestre valeu a pena, e até deu bem para esquecer estes aborrecidos imprevistos!






sexta-feira, novembro 11, 2011

DIA DE SÃO MARTINHO - 11 de Novembro





No dia de São Martinho, mata o teu porco, 
chega-te ao lume, assa castanhas 
e  prova o teu vinho...



São Martinho é o primeiro dos Santos não Mártires, o primeiro Confessor, que subiu aos altares no Ocidente. A liturgia consagra-lhe um lugar semelhante ao dos Apóstolos, por ter sido ele quem concluiu a evangelização das Gálias. A sua festa era guardada e favorecida frequentemente pelos dias de "verão de São Martinho", rivalizando, na exuberância da alegria popular, com a festa de São João.

Lenda de São Martinho

Tinha Oitava, como São Lourenço, porque São Martinho, "pérola dos sacerdotes", era entre os Confessores o que São Lourenço era entre os Mártires, o maior dos Confessores. Nasceu na Sabária e veio para as Gálias como soldado.

Quando ainda era catecúmeno, um dia , em Amiens, deu a um pobre que lhe pedia esmola por amor de Cristo, metade da clâmide. Na noite seguinte, Jesus Cristo apareceu-lhe vestido com essa metade que ele dera ao pobre, e disse-lhe: "Martinho, sendo ainda catecúmeno vestiu-me com este manto".

Recebeu o batismo aos 18 anos. Depois de viajar pelo Oriente, onde se iniciou na vida monástica, faz por algum tempo vida de eremita numa ilha das costas da Ligúria. Finalmente fez-se discípulo de Santo Hilário que então ocupava a cadeira episcopal de Poitiers e fundou no deserto de Ligugé, a duas léguas da sede do Bispado, um mosteiro para onde se retirou com alguns discípulos. Lançou assim os alicerces do monaquismo nas Gálias.

São Martinho (El Greco)

Mas Deus quis que São Martinho fosse arrancado à solidão e revestiu-o da dignidade episcopal, o que lhe deu ensejo para desenvolver largamente os dotes do seu coração de apóstolo. Pregou o Evangelho pelos campos da Gália e extirpou de vez os resíduos tenazes do paganismo, que tinham resistido à investida cristã a coberto da superstição e ignorância do povo. Colocado à frente da diocese de Tours, fundou a célebre Abadia de Marmoutiers ou o grande mosteiro para onde se retirava com frequência, a fim de viver mais longe do mundo, e mais perto de Deus. Cercavam-no oitenta monges de vida santíssima, pautada pelo exemplo e regra dos Eremitas de Tebaída.

Viveu mais de oitenta anos, ocupado sempre com a Glória de Deus e a salvação das almas, e morreu em Candes, perto de Tours, em 397.

Ao seu túmulo afluíam de toda a parte peregrinações frequentes. Gregório de Tours, que lhe sucedeu, não hesitou em o chamar "Patrono de todo o mundo". Poucos santos alcançaram a sua popularidade. A capa de São Martinho era conduzida à frente dos exércitos em tempo de guerra e com ela se pregavam os sermões solenes em tempo de paz.

Castanhas assadas e  vinho novo, em dia de São Martinho

O culto de São Martinho começou logo após a sua morte e, hoje em dia, um pouco por toda a Europa. O São Martinho é festejado não só em Portugal, mas também na Galiza, nas Astúrias, por toda a Espanha. Fazem-se os "Magustos", onde as castanhas são assadas no lume das fogueiras acesas, e onde amigos e familiares reunidos, dançam ao som do seu estalar no calor do lume.

O vinho novo, jeropiga ou água-pé acompanham as castanhas assadas, pois, como diz o ditado popular, "no dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho".







Tudo isto sob o calor do tradicional "verão de São Martinho", uma melhoria do tempo usual nesta época do ano...







quinta-feira, novembro 10, 2011

A MAIOR ONDA DO MUNDO, SURFADA EM PORTUGAL - Praia do Norte, Nazaré





Vão ver algo que, provavelmente, ainda nunca foi visto. Neste passado domingo, dia 7 de novembro de 2011, Portugal pode ter-se tornado no detentor da maior onda do mundo alguma vez surfada, onda que atingiu os 30 metros de altura. O equivalente a um prédio de 10 andares.

O surfista Garrett McNamara
Este fenómeno ocorreu na Praia do Norte, na Nazaré, em consequência de uma falha geológica submarina localizada no golfo da Nazaré, falha essa que atinge os cinco mil metros de profundidade e vários quilómetros de comprimento. Esta falha, conhecida como "Canhão da Nazaré", constitui um gigantesco desfiladeiro submarino e exerce uma enorme força ativadora do volume e altura das ondas marítimas neste golfo.

Assim, no passado domingo, o surfista norte-americano Garrett McNamara de 42 anos, teve a oportunidade de surfar uma onda gigante que atingiu os 30 metros, batendo o recorde mundial do seu colega Mike Parsons, que havia surfado uma onda de 23 metros, a mais alta até domingo passado, durante o evento "The North Canyon Show". 
Logotipo do evento a decorrer na Praia do Norte, na Nazaré.

Garrett McNamara torna-se, deste modo, no novo nome na lista dos maiores surfistas do mundo. McNamara encontra-se em Portugal a convite do Presidente da Câmara da Nazaré, para avaliar e divulgar o potencial das ondas da região até ao ano de 2012 e ficou impressionado com o que encontrou. Especialista em ondas gigantes, ficou fascinado com as "paredes" de nove metros provocadas pelo "Canhão da Nazaré".

"Não consigo descrever: estamos no topo da onda, mas esta torna-se rapidamente pequena. O «Canhão» faz com que as ondas sejam maiores. Tudo se resume ao peso da onda. Parece que estamos a saltar de uma parede gigante, mas nunca se sobrevive a saltos de paredes tão altas como estas ondas", declarou Garrett McNamara à estação televisiva TVI24.

A Nazaré passa, assim, a encabeçar a lista dos locais favoritos do Surf mundial. 




segunda-feira, novembro 07, 2011

O FADO - Candidatura a Património Imaterial Da Humanidade II (UNESCO)





Neste ano o fado vai ser apreciado na UNESCO, na qualidade de candidato ao Património Imaterial da Humanidade. Ruy Vieira Nery, ilustre musicólogo, liderou este ambicioso projeto, para o qual o fadista Carlos do Carmo foi nomeado embaixador.
Carlos do Carmo, Fadista e Embaixador da
Candidatura do Fado a Património
Imaterial da Humanidade

Em Setembro deveríamos ter tido conhecimento dos resultados destas meritórias diligências científicas e diplomáticas em prol da Cultura Portuguesa. Assim, e com a aproximação do final do ano que assinala também o final do prazo do concurso, aguardamos a todo o momento as notícias definitivas destes mesmos resultados da candidatura nacional. 

No tempo do Estado Novo, houve duas figuras que muito prestigiaram Portugal no exterior: Amália Rodrigues e Eusébio da Silva Ferreira. Nos nossos dias, com a Globalização, já muitos portugueses se destacam no estrangeiro, pelos seus relevantes contributos em várias áreas da Cultura, da Ciência, da Política, do Desporto,etc. Esperemos que este novo "sopro" de juventude, que igualmente se estende ao fado, conjuntamente com o já existente, possam contribuir para despertar o interesse das comunidades internacionais para esta candidatura, e assim recebermos, em breve, boas notícias... 

Por isso, falarei um pouco sobre a Canção Nacional,  Fado, apenas o suficiente para descobrir um pouco das suas origens e evolução ao longo dos anos na sociedade portuguesa, até à actualidade. Porque o que realmente interessa é ouvi-lo, para melhor o poder apreciar e entender...
Casa de Fado

A origem do seu nome, do conhecimento de todos nós, parece ser  a do étimo latino "fatum", ou seja, destino. A tradição popular aponta a origem do fado de Lisboa para o cântico dos Mouros, que permaneceram no bairro da Mouraria em Lisboa, após a reconquista Cristã. A dolência e a melancolia, características do fado, teriam sido herdadas daqueles cânticos. Outra teoria, sugere o despontar e a imensa popularidade nos séculos XVIII e XIX da Modinha e de outros géneros afins, como o Lundu, divulgados pelas diferentes culturas então presentes em Lisboa.

No entanto, o fado só começou a ser conhecido como tal, depois de 1840, nas ruas de Lisboa. O fado mais antigo é o "fado do marinheiro", e é este fado que se vai tornar o modelo de todos os outros géneros de fado que viriam a surgir, mais tarde, como o "fado corrido", e depois deste o "fado da cotovia". 

E é com este fado, que surgem os fadistas, com as suas vestes características e atitudes não convencionais, desafiadoras por vezes, e que originavam frequentes contendas com grupos rivais. Um fadista, ou "faia", de 1840, era conhecido pela sua maneira de trajar: "usava boné de oleado com tampa larga e pala de polimento, ou boné semelhante ao dos guardas municipais, com uma laçada de fita preta, de lado, e pala de polimento; jaqueta de ganga ou com alamares. O cabelo, cortado do meio da cabeça para trás, de modo a formar uma melena empastada caída sobre a testa".
Amália Rodrigues

A partir da primeira metade do século XX, o fado foi adquirindo grande riqueza melódica e complexidade rítmica, tornando-se mais literário e artístico. Os versos populares são substituídos por versos elaborados, e durante as décadas de 30 e 40, o cinema, o teatro e a rádio vão projetar esta canção para o grande público, tornando-o, de alguma forma, mais comercial.

Surge a figura do fadista como artista, trajando de negro, que saindo das vielas e recantos escondidos, passa para os palcos brilhantes do teatro, das luzes do cinema, para serem ouvidos na rádio ou em discos. É também nesta altura que surgem as Casa de Fados e com elas o lançamento do artista profissional. Eram ambientes de convívio, entre compositores, letristas e intérpretes.
Alfredo Marceneiro

O fadista canta o sofrimento, a saudade de tempos passados, a saudade de um amor perdido, a tragédia, a desgraça, a sina e o destino, a dor , o amor e o ciúme, sempre no silêncio da noite, envolto no mistério da penumbra. É assim, com "uma alma de quem sabe escutar", que se deve ouvir esta canção de alma portuguesa, que também canta a crítica e as misérias da vida e a própria cidade...Sempre acompanhada pela sonoridade de uma guitarra portuguesa.

Todavia o fado, como canção nacional, é hoje acompanhado por violino, violoncelo e orquestra, mas nunca dispensa a guitarra portuguesa, da qual há e houve excelentes intépretes como Armandinho, Jaime Santos e tantos outros. Também a viola é indispensável na música fadista, da qual restam incontornáveis nomes como Alfredo Mendes, Martinho d'Assunção, etc..
Hermínia Silva

Seria imperdoável não referir o nome de Maria Severa, a primeira figura que nos surgere a história do fado lisboeta. Nasceu em Lisboa, numa barraca nos montes. O seu pai, de etnia cigana, foi Severo Manuel de Sousa e a mãe, Ana Gertrudes, uma portuguesa de Ovar que, emigrada em Lisboa, se tornou numa prostituta célebre da Mouraria, conhecida pelo sobrenome de "Barbuda", profissão que Maria Severa parece ter herdado.

À ascendência cigana de Maria Severa é atribuída a sua beleza exótica, que, conjuntamente com o seu cantar expressivo, "de cantadeira de fado", conquistou os boémios da capital, o que não lhe foi difícil dada a profissão que exerceu.Viveu em  vários bairros de Lisboa: Graça, Bairro Alto e Mouraria, onde veio a morrer. Dela, ficou o relato das mais variadas estórias, amores e aventuras...





Uma breve lista das diversas categorias de Fado, conhecidas:

  • Fado Alcântara
  • Fado Aristocrata ( iniciado por Maria Teresa de Noronha e progredido por membros da sua família)
  • Fado Bailado
  • Fado Batê
  • Fado-Canção
  • Fado Castiço (tradicional dos bairros típicos de Lisboa)
  • Fado Corrido (alegre, desgarrado e dansável)
  • Fado Experimental (dentro do "Fado do Milénio", atinge o auge com Mísia, e dentro do "Fado Em Concerto", atinge o auge com Yolanda Soares)
  • Fado Lopes
  • Fado Marcha Alfredo Marceneiro (criado por Alfredo Marceneiro)
  • Fado da Meia-noite (criado por Felipe Pinto)
  • Fado Menor (fado melancólico, triste e saudoso)
  • Fado Mouraria
  • Fado Pintadinho
  • Fado Tango (criado por Joaquim Campos)
  • Fado Tamanquinhas
  • Fado Vadio (fado não-profissional)
  • Rapsódia de Fados (justaposição ou mescla de fados tradicionais e populares)
  • Fado Marialva ( fado alegre, referente à tradição tauromáquica)
  • Fado de Coimbra (de sonoridade e ritmo diferentes, fado balada, resulta da Tradição Académica da cidade de Coimbra).

Os intérpretes que escolhi para ilustrar esta mensagem, são de entre os mais populares e representam épocas bem distintas da canção nacional. São eles:

HERMÍNIA SILVA:

ALFREDO MARCENEIRO:

AMÁLIA RODRIGUES:

APRESENTAÇÃO OFICIAL DE CANDIDATURA DO FADO:


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