ALMA
MINHA GENTIL, QUE TE PARTISTE
Alma
minha gentil, que te partiste
Tão
cedo desta vida descontente,
Repousa
lá no Céu eternamente,
E
viva eu cá na terra sempre triste.
Se
lá no assento Etéreo, onde subiste,
Memória
desta vida se consente,
Não
te esqueças daquele amor ardente,
Que
já nos olhos meus tão puro viste.
E
se vires que pode merecer-te
Algũa
cousa a dor que me ficou
Da
mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga
a Deus, que teus anos encurtou,
Que
tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão
cedo de meus olhos te levou.
LUÍS
VAZ DE CAMÕES,
in
"Sonetos"
(In memoriam, 2/11/2015)
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