DIZ O MEU
NOME
Diz o meu
nome
pronuncia-o
como se as
sílabas te queimassem
os lábios
sopra-o com
a suavidade
de uma
confidência
para que o
escuro apeteça
para que se
desatem os teus cabelos
para que
aconteça
Porque eu
cresço para ti
sou eu
dentro de ti
que bebe a
última gota
e te conduzo
a um lugar
sem tempo
nem contorno
Porque
apenas para os teus olhos
sou gesto e
cor
e dentro de
ti
me recolho
ferido
exausto dos
combates
em que a mim
próprio me venci
Porque a
minha mão infatigável
procura o
interior e o avesso
da aparência
porque o
tempo em que vivo
morre de ser
ontem
e é urgente
inventar
outra
maneira de navegar
outro rumo
outro pulsar
para dar
esperança aos portos
que aguardam
pensativos
No húmido
centro da noite
diz o meu
nome
como se eu
te fosse estranho
como se
fosse intruso
para que eu
mesmo me desconheça
e me
sobressalte
quando
suavemente
pronunciares
o meu nome
MIA COUTO,
in 'Raiz de
Orvalho'
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