QUASE
UM POEMA DE AMOR
Há
muito tempo já que não escrevo um poema
De
amor.
E
é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A
nossa natureza
Lusitana
Tem
essa humana
Graça
Feiticeira
De
tornar de cristal
A
mais sentimental
E
baça
Bebedeira.
Mas
ou seja que vou envelhecendo
E
ninguém me deseje apaixonado,
Ou
que a antiga paixão
Me
mantenha calado
O
coração
Num
íntimo pudor,
—
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De
amor.
MIGUEL
TORGA,
in
'Diário V'
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